segunda-feira, 19 de março de 2012

ESPECIAL OU ORIGINAL?

   Muitas pessoas acreditam que boas são as coisas especiais, aquelas que têm um quê de diferença, de destaque, algo a acrescentar em uma essência comum. Quando querem enfatizar a qualidade de algo ou de alguém, dizem que aquilo ou aquela pessoa é especial. Mas, vejamos a etimologia desta palavra. Segundo o dicionário Michaelis, especial é: relativo a uma espécie; peculiar de uma coisa ou pessoa; exclusivo. Porém, também é: fora do comum; excelente; notável.
   Tudo bem, vamos concordar que tudo o que é realmente especial é fora do comum, é notável. Porém, aprofundando mais ainda neste exato ponto, temos o seguinte. Se considerarmos que algo especial é melhor do que algo comum, estaremos tomando uma preferência, dizendo que nem sempre o que é comum é tão bom. Essa questão de preferir algo é natural do ser humano. Temos, em geral, a tendência de selecionar, dentre uma coleção de elementos, aquele que se destaca em determinado quesito.
   Porém, a maioria das coisas e pessoas existentes é comum. Isso é tão verdade, que ainda hoje somos surpreendidos quando uma pessoa tida como comum ganha certo destaque pessoal ou profissional. Se formos então, concordar com essa análise, estaremos aceitando que a maioria das pessoas não é tão "boa", ou seja, que elas estão em um patamar não tão especial. Se fizermos isso, afirmo, com convicção, que estaremos ignorando valores únicos de inúmeras pessoas que vivem nos mais longínquos rincões de nosso planeta, ou mesmo nas mais populosas capitais. Existem milhões de pessoas vivendo no anonimato, porém, tendo capacidades múltiplas latentes. Estas capacidades só necessitam ser descobertas. Não para que essas pessoas passem da classificação de comum para a especial, mas sim para que possa ser visto o real valor das pessoas comuns.
   Se todas as pessoas se tornassem especiais, não haveria mais ninguém comum. O que haveria, após isso? Logo, logo, alguém iria querer deixar de ser especial, apenas para ser diferente das demais, para ter algum destaque. É isso que o ser humano procura, um destaque, a fim de que sobressaia e seja notado de uma forma peculiar. Sim, porque, em isso acontecendo, seu nome será pronunciado e seu ego será massageado. Todo ser humano procura essa satisfação pessoal. O que ocorre, porém, é que o destaque que tem valor é aquele que acontece de uma forma natural, ou seja, quando a pessoa age de forma original, não querendo copiar nada do que as demais pessoas fazem. Quando alguém recebe um destaque de forma superficial, provocada, incentivada, a sua essência não está fazendo parte dessa atitude e, portanto, após pouco tempo, esse "fogo de palha" vai sumir, desaparecer. E, então, o que essa pessoa fará, em seguida?
   Afirmo que todas essas questões estão conectadas à realização pessoal que todos buscamos. E isso passa pela forma como fomos criados por nossos pais, pela forma como aprendemos a nos relacionar com as demais pessoas em nossa infância. Caso tenhamos vivido em meio a pessoas que não buscaram viver de uma forma original, própria, mas sim que tenham sido muto influenciadas pelo meio em que viviam, teremos a tendência a desejar ou até mesmo tentar viver algo semelhante.
   A reflexão mais profunda que posso fazer, neste exato momento, é a seguinte: temos que viver a nossa própria vida. Isso quer dizer que temos que dar continuidade à história que vem sendo escrita em nossos corações e nosso destino desde o dia em que nascemos. Não faz sentido querermos tomar a vida de outrem e acoplarmos a história ou o destino dessa pessoa, sobrepondo-os aos nossos. Não faz sentido buscarmos ardentemente ser alguém especial, sendo que ainda não compreendemos nem mesmo quem somos. O que precisamos, de verdade, é buscar a nossa originalidade, ou seja, precisamos ser nós mesmos, nada mais, nada menos que isso. Uma vez que, em sendo a pessoa que construímos para a nossa vida, as demais pessoas poderão nos enxergar exatamente como somos. Talvez uma pessoa nem tanto especial, mas um ser original, que expressa exatamente aquilo que é. Acredito nisso.

Helvécio

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