sexta-feira, 28 de setembro de 2012

Deixa a vida me levar. Pra onde?

   Lendo um artigo de um renomado jornalista, deparei-me com uma realidade a qual me fez pensar de uma forma diferente. Dizia ele que sentia urticária ao ouvir a palavra conscientizar como forma de escape do governo ou outras instituições que a propagam de uma forma irresponsável, fugindo da resolução direta do problema, querendo apenas ludibriar a população enfatizando que o problema dos acidentes de trânsito só terá solução quando os motoristas se conscientizarem da necessidade de uma boa educação para o trânsito.
   O artigo mostra que as ações que se perpetuam não são as que estão no consciente das pessoas, mas sim  as que permanecem no seu inconsciente, pois são estas as que "dormem" com as pessoas e tornam-se prática adquirida. As ideias e valores que chegam apenas até ao consciente fogem dali de maneira muito mais facilitada.
   Esta forma de ver a realidade, principalmente a do trânsito, fez-me pensar de forma profunda sobre aquilo que realmente consideramos importante em nossas vidas, sejam valores aprendidos, conceitos adquiridos, estilos de vida considerados, visões de mundo e de país que aprendemos etc. Fiquei uns minutos parado, apenas tentando entender porque ocorre aquela fuga de nosso consciente de alguns valores importantes. Detive-me por um tempo tentando apreender e racionalizar uma forma de explicar esse processo.
   Entendi que, no caso da questão do trânsito, o problema e sua resolução não são eleitos como prioridades pela maioria de nós brasileiros. Podemos observar que só damos importância a fatos lamentáveis como a terrível estatística de mais de duzentas mortes por dia no trânsito quando uma pessoa querida sofre algum prejuízo grave. E, mesmo assim, depois de um certo tempo, nos esquecemos daquele fato e continuamos nossa vida como se nunca tivéssemos sabido sequer de um fato grave. Ou seja, atentamos para a questão apenas por um tempo breve e não adotamos uma postura diferente de forma definitiva. Portanto, esse assunto fica por bem pouco tempo em nosso consciente e depois é literalmente descartado. E, tal qual essa questão do trânsito, também o é com inúmeras outras questões muito importantes, mas que não elegemos como prioridade em nossa vida.
   Para que uma nova forma de enxergar a realidade ou agir torne-se uma prática real em nossas vidas, precisamos definir, antes de mais nada, um espaço para a mesma em nosso rol de elementos importantes. E isso é feito inicialmente com uma reflexão mais profunda, recheada de pausas, pensamentos, silêncio, ouvindo nossa alma e lembrando quais são nossas prioridades de vida. Em alguns casos, será necessário fazermos uso de anotações a fim de lembrarmos quais são as atividades que fazemos corriqueiramente e que podem ter um pouco menos de atenção para que uma nova prática tome lugar cativo em nosso ser. Um susto apenas quando um fato grave ocorre não é suficiente para adotar um novo costume. Uma notícia veiculada também não basta para isso. O que precisamos mesmo é fazer um novo planejamento, tal qual um engenheiro que vê uma nova realidade a ser embutida de forma importante na construção de um edifício. Para fazer isso é necessário que sejam revistos os projetos da obra, talvez olhar para as fundações e a estrutura do prédio. É um processo bem mais minucioso do que apenas ficar pasmo diante de notícias muito tristes.
   A questão do trânsito é muito mais séria do que a importância que damos a ela. Levantamos e deitamos sem tomar pé da real situação e vamos levando nossa vida, ou melhor, deixando que ela nos leve para os rumos que ela escolher, tal qual um caminhão desengrenado numa descida íngreme. E, da mesma forma, várias outras questões a que devemos dar grande atenção vão sendo ignoradas e deixadas de lado. Infelizmente, boa parte da cultura de nosso país concorda com o trecho daquele pagode que diz assim: "Deixa a vida me levar...". Devemos, porém, discordar veementemente disso, pois músicas assim é que vão permanecendo em nosso inconsciente, sendo ouvidas involuntariamente, fazendo com que nos tornemos indiferentes e achando que a culpa é do governo e que nossas atitudes não têm importância. O objetivo, muito pelo contrário, é que assuntos nobres, como modificar nossas atitudes no trânsito, tais como respeitar a faixa de pedestres, fazer revisões no carro, dirigir em condições de segurança, estes sim, fiquem gravados em nossa mente para se tornarem atitudes eficazes e definitivas.
   Será que encontraremos pessoas corajosas a ponto de negarem essa máxima de deixar a vida nos levar? Será que brotarão novas pessoas como frutos consistentes, que tenham a hombridade de estufar o peito e dizer que são contra o jeitinho brasileiro de concordar com a acomodação e a indiferença quanto a assuntos tão importantes? Quem não fizer parte daquela triste estatística do trânsito, saberá!

Helvécio

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