terça-feira, 25 de outubro de 2011

Abismos. Eternos?

   Comida farta. Ambiente espaçoso. Serviçais à disposição. Banhos quentes com sais. Discussões sobre o futuro de seu país. Tempo disponível para conjecturas sobre o passado e futuro. Vinho do bom e do melhor. Amplas janelas limpíssimas para apreciar a paisagem com jardins contendo as mais variadas espécies de plantas e flores agradabilíssimas ao olhar e ao olfato. Cama real, ampla, com quarto cheio de detalhes e ornamentos pomposos. Auxiliares disponíveis o tempo todo para atender a todas as necessidades.
    Crianças chorando querendo comida. Falta de dinheiro para pagar as contas mesmo antes do fim do mês. Goteiras por toda a casa. Cachorro latindo de fome. Roupas velhas rasgadas. Comida escassa. Necessidades muitas sem ter como suprir. Ter que suar a camisa o mês todo para tentar sobreviver até o mês seguinte. E até o ano seguinte. E até a década seguinte.
   Abismos eternos. Sempre foi assim com a humanidade. Os poderosos ostentando requinte, luxo, pompa, poder, folga. Os pobres sofrendo, batalhando, lutando duramente para sustentar aqueles outros. E os outros ainda tirando os impostos do nada que têm os pobres. Coitados. Pobres coitados.
   Mas as coisas estão mudando. Muitos que estavam no poder há décadas estão caindo. E muitos que jamais sonhavam estar no poder, hoje sentam nas melhores cadeiras. A vida dá voltas. O mundo gira. A fila anda. Os dias passam. Os anos voam. A humanidade se desenvolve. Os conceitos são ampliados. O conhecimento é distribuído, mesmo que os poderosos não queiram. Não há como frear a humanidade. Ela acaba fazendo aquilo que julga necessário.
   Porém, mesmo mudando, mesmo se desenvolvendo, mesmo espalhando conhecimento, ainda há muitos abismos. Ainda há muitos com mesas fartas em um canto, enquanto há outros raquíticos esperando a benevolência alheia trazer algo de comer. Ainda há muitos vestindo ternos caríssimos, enquanto há outros maltrapilhos pedindo ajuda nos semáforos. Ainda há muitos discutindo o futuro da humanidade, nos mais famosos painéis mundiais, enquanto há outros sem saber se haverá um futuro para eles amanhã.
   Somos parte da humanidade. Essa humanidade estranha. Muitos amam. Outros ignoram. Muitos ajudam. Outros se omitem. Muitos estendem a mão. Outros muitos cortam as mãos dos outros. Muitos criam leis benéficas aos menos favorecidos. Outros tantos aprovam leis em causa própria.
   Até quando esta humanidade contraditória estará convivendo consigo mesma? Até quando teremos que assistir espetáculos de desonra, incompreensão e falta de diálogo? Essa resposta talvez seja uma das mais difíceis de serem respondidas. Só Deus sabe.
   Entretanto, o que devemos saber é que, mesmo sendo apenas parte, completamos um todo. E esse todo pode ser melhor ou pior dependendo de sua essência. E fazemos parte dessa essência. Somos um pedacinho dela. Contribuímos para que ela se torne melhor ou pior. E é tão fácil fazer com que ela se torne um pouco melhor. Basta que, primeiro, enxerguemos essas diferenças que existem. Fechar os olhos para a realidade talvez seja a pior das atitudes. O mínimo que devemos fazer é não ignorar os fatos.
   Agora, além disso, podemos fazer muitas outras coisas. Uma delas é verificar em nosso território particular, em nosso círculo de convivência, em nossa comunidade, se hão há também outros abismos. Estes dependem apenas de nós mesmos para deixarem de existir. Vamos ajuntar as montanhas, para que essa lacuna tenha um fim? Vamos?

Helvécio

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