O PORQUÊ DOS ESPINHOS

   Em um dos diálogos do livro "O Pequeno Príncipe", o protagonista conversa com um de seus interlocutores, perguntando por que uma flor tem espinhos. "Para que servem os espinhos?" Essa foi a pergunta do principezinho ao autor do livro.

    Refletindo cautelosamente sobre essa pergunta, vemos que ela tem um porquê. No caso do diálogo do livro, o principezinho estava preocupado com a única flor que ele tinha no seu planeta. Ele estava preocupado, pensando que o carneiro poderia comer a sua flor, mesmo que ela tivesse espinhos. Esse foi o motivo da sua pergunta.

   Será que apenas as flores têm espinhos? E qual será a função real dos espinhos em uma flor? Fui procurar a resposta, pois a melhor coisa para se aprender algo é procurar a resposta correta para a pergunta. 

   E, como já era de se esperar, a função dos espinhos é mesmo de produzir uma defesa para a flor. Imaginemos uma rosa. Na parte superior está a flor, com as pétalas, lindas, oferecendo beleza aos animais que virão admirá-la e polenizá-la. Porém, tanta beleza precisa de uma proteção. Os animais predadores vêm, na sua maioria, pelo caule. Imagine que, para subir,  o animal precisa forçar seu corpo contra o caule. E, uma vez chegando nos espinhos, ao apertar o seu corpo contra, o espinho fere o animal, que não consegue prosseguir com a subida até a flor. Desta forma, a mesma fica protegida.

   Muitas vezes vemos a palavra espinhos sendo citada em comparações com problemas em nossa vida. Algumas pessoas dizem que a vida tem os espinhos e que precisamos aceitar isso. Porém, quero focar outro ângulo desta palavra em relação aos seres humanos e sua vivência.

   Acredito que existam muitos espinhos na vida, sim. Porém, os verdadeiros espinhos estão no caule de todas as conquistas valiosas que precisamos fazer. Não encontraremos espinhos nas coisas fúteis que formos procurar. Como dizem: "amigos" para lhe convidar para ir a um bar, você tem aos montes. Porém, amigos que lhe acompanhem até a igreja, esses são poucos. Se optarmos por conquistar coisas menores, os espinhos serão mais suaves e maleáveis. Porém, as grandes conquistas, essas têm, todas, espinhos eficazes.

   Quais são as duas questões principais nesse sentido? Bem, vejo duas reflexões importantes que devemos fazer. Primeiro, todo ser humano honrado e que pensa em vencer, deve preparar-se para encarar grandes conquistas, ou seja, deve pensar em conquistar coisas nobres, valiosas, ou seja, grandes nesse sentido.

   Em segundo lugar, ao preparar-se para conquistar essas metas grandes, precisaremos de algo muito mais poderoso. Se agirmos como os predadores, que tentam escalar o caule de uma flor, não teremos sucesso. Começar a conquista indo por baixo é ineficaz.

   Como faremos, então? A forma correta de ter sucesso nessa empreitada é única. Precisamos nos capacitar de tal forma que ganhemos asas, tais como os insetos polenizadores. Desta forma, poderemos nos aproximar da beleza da flor de igual para igual, por cima. Então, o diálogo com a rosa a ser conquistada será equilibrado, e poderemos mostrar que temos conteúdo e capacidade para sermos vitoriosos, não apenas conquistando a flor, mas querendo cuidar dela, para que seu perfume perdure e se reproduza em várias outras flores.

   E os espinhos? Ah, esses ficaram lá pra baixo, no caule. Nem lembro mais deles.

Helvécio