sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

AOS QUARENTA E CINCO DO ÚNICO TEMPO

   Quando você chega aos quarenta e cinco anos, uma coisa interessante acontece. Em primeiro lugar, você dá uma olhada bem longa para todos os anos que ficaram para trás. Geralmente, quem chegou nessa fase, já está com alguns aprendizados pela vida. Já passou por várias estradas. Já caiu em alguns buracos. Já passou por algumas experiências. Talvez muitas interessantes e vitoriosas, talvez outras não.
   Quarenta e cinco é metade de noventa. Mas é o triplo de quinze. E é uma vez e meia trinta. Mas é menos que cinquenta. E faltam, ainda, quinze para chegar aos sessenta. Então, é uma ótima idade para se chegar a inúmeras conclusões.
   Uma delas é a de que precisamos ser como uma esponja nessa vida. Precisamos saber absorver muito bem as coisas que às vezes passam apenas pela superfície da nossa existência. E, muitas destas coisas vão passar muito rapidamente. E teremos que ter a esperteza para absorvê-las de forma ágil.
   Eu nasci no século passado, apenas vinte e um anos após o término da segunda guerra mundial. Imagine, Hitler, os países aliados, as bombas nucleares de Hiroshima e Nagasaki. Eu nasci nos anos sessenta, onde a jovem guarda fazia sucesso. Ondes os bailes eram comuns em formaturas, as jovens debutavam, dançavam valsa com os pais. Eu nasci na ditadura militar, onde os generais exerciam o poder, nomeados, sem eleições para presidente. Nasci num tempo em que as doenças terríveis como a Aids e o Câncer não eram tão frequentes. Nasci numa época em que as pessoas não tinham computadores em casa. Nem as empresas tinham.
   Eu assisti à copa de setenta, onde o Brasil tinha noventa milhões de habitantes. E sempre tocava uma música assim: "Noventa milhões em ação, pra frente, Brasil, do meu coração. Todos, juntos, vamos, pra frente, Brasil, salve a seleção. De repente é aquela corrente pra frente, parece que todo o Brasil deu a mão. Todos ligados na mesma emoção, tudo é um só coração. Todos, juntos, vamos, pra frente, Brasil, Brasil, salve a seleção." 
   Que recordações! Pelé jogava a sua última copa. O Brasil já era tri em setenta. A indústria automobilística começava a dar um salto. A guerra fria ainda era uma realidade. Nem se falava em clonagem. A ovelha Dolly não existia. Ninguém ouvia falar o que eram células-tronco. A população brasileira ainda era enorme no campo. Não se falava em obesidade. As pessoas tinham uma vida muito mais saudável. Para se ter noção, meu avô começou a cuidar de sua fazenda aos quarenta e três anos. E fez isso até mais de sessenta e cinco anos, trabalhando diariamente de forma ativa, tamanha era sua saúde.
   Sou do tempo em que não se falava em internet. Quando as pessoas precisavam se visitar pessoalmente, olhar nos olhos para conversar, para desabafar. Quando os namorados enviavam cartas para as namoradas. E elas liam ansiosamente e guardavam cada pedaço de papel. Quando as namoradas deixavam marca de batom na carta que enviavam saudosas dos seus namorados. Quando namorar significava conhecer, conversar, entender-se, dialogar, analisar o comportamento de cada um.
   Eu sou da época em que ser trabalhador era uma virtude enorme, observada como algo bom pela maioria das pessoas. Quando trabalhar significava dedicar-se a alguma ativididade nobre, geralmente envolvendo algum trabalho braçal. Quando se gastava o suor para desempenhar alguma tarefa. Quando não se tinha muito tempo para ficar com a mente ociosa e pensar coisas indevidas.
   Mas também sou do tempo em que as injustiças ficavam muito encobertas. A divulgação de informações era bem restrita. E, por isso, não se sabia de muitas coisas injustas que ocorriam. Os poderosos também dominavam e o povo era muito, muito mais passivo do que hoje. Quando os governantes mandavam, desmandavam e ficava tudo por isso mesmo. Quando o poder militar oprimia as pessoas que faziam questão de se manifestar, publicamente ou não. Quando a mulher tinha participação ínfima no mercado de trabalho. 
   Mas, também, os jovens infratores não eram protegidos pelo poder público e órgãos competentes a ponto de se tornarem marginais. Quando as drogas não imperavam mundo afora como o fazem hoje. Quando a criança era educada de uma forma rígida, porém tornava-se um adulto mais responsável. Quando se viam muito menos barbaridades, tais como a pedofilia e os crimes eletrônicos. Quando as crianças tinham o tempo e a atenção dos pais e, por isso, cresciam mais saudáveis. Sou do tempo em que se vivia intensamente a infância.
   E cá estamos, hoje, escrevendo um texto que será postado em um blog, divulgado em uma rede social, onde as pessoas expõem suas realidades, até mesmo partes privadas dela, sem receio, de forma ampla. Cá estamos, onde o contato remoto das pessoas toma parte maior do tempo do que o contato físico. Onde muito se fala de amizade, amor, paixão. Porém, vive-se muito pouco disso. Onde as pessoas tomam decisões impensadas, precocemente. Onde se troca de parceiro como se trocava de roupa antigamente. Onde nos comunicamos de formas variadas, mas superficiais. Onde a amizade verdadeira é muito pouco vivenciada. Onde as pessoas têm muito pouco tempo para as coisas muito importantes, tais como sentar na sala de casa e conversar.
   É, meus amigos. Quarenta e cinco anos do único tempo. O tempo de vida que temos, nesta terra, é muito breve. A maioria das coisas pelas quais passamos é efêmera, passageira. Precisamos "aprender a contar nossos dias, para alcançarmos um coração sábio", diz uma passagem bíblica. E, contar os dias, é saber viver cada um deles de forma não improvisada, mas planejando-o de acordo com nossos valores, nossa fé e olhando sempre para um futuro promissor, o qual queremos todos conquistar, independente de quem formos ou onde estivermos. Desejo a todos os meus leitores mais jovens, que não só cheguem aos quarenta e cinco, mas ao dobro disso. E, aos que já avançaram, que prossigam durante décadas vivenciando cada experiência da forma mais proveitosa possível. Envio um forte abraço a todas as pessoas idosas que me ensinaram valores áureos e que me foram imensamente úteis. E envio um beijo enorme a todas as crianças, puras, intensas, brilhantes, corretas que, como eu, pensam em sinceridade e em expressar aquilo que vem do coração. Um forte abraço.


Helvécio

2 comentários:

  1. kkkkkkkk!!!!!!!Que linha do tempo joia conseguiste fazer!!!!Muito bom seu texto e criativo se assim posso dizer!Irei usá-lo em vários conteúdos, pedagogicamente falando ficou excelente,posso até trabalhar situações problemas,kkkk,obrigada!!!Mas o melhor é saber que você tem vivido bem,porque nos mostra isso em seus textos!!!!!!

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  2. Foi muito bom escrever esse texto. Comecei pensando no quanto sou privilegiado por ter vivenciado tantos momentos importantes no Brasil e no mundo. Abraço.

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