terça-feira, 20 de novembro de 2012

A voz das palavras

   Quando somos ensinados sobre os cinco sentidos que possuímos, compreendemos muito do que acontece à nossa volta e somos levados a entender como o nosso organismo funciona. E é muito interessante como esses sentidos estão ligados às questões físicas, fisiológicas e, também, emocionais. Físicas, porque sentir o gosto de algo requer que nossa língua toque esse alimento, ou seja, é algo palpável. Fisiológico, porque, ao sentirmos o cheiro de algum alimento, somos levados a salivar se estivermos com fome. E emocional, porque, por exemplo, o cheiro de algum objeto nos faz lembrar de situações passadas, sejam elas boas ou ruins.
   E um dos sentidos é a audição, ou seja, a capacidade de escutar, ouvir os sons de tudo o que existe. Quando estudamos os órgãos auditivos, compreendemos que o ouvido é um órgão complexo, que tem como principal função conduzir o som do meio externo até o meio interno e, a partir daí, permitir que o significado daquele som seja decodificado pelo cérebro. Portanto, a audição envolve, não apenas a condução de um som, mas sim a completa compreensão daquilo que o som significa para o nosso organismo. Imagino que a falta da capacidade de ouvir não apenas omite da pessoa aquele som que seria ouvido, mas a impede de compreender várias coisas da vida. A surdez não é apenas a falta de audição, mas sim a condição de não perceber infinitos elementos que existem à nossa volta.
   As palavras falam. Sim, elas falam. Quem pensa que elas são apenas sinais gráficos inertes e passivos ou meros sons singulares, está muito enganado. Cada palavra tem seu som específico, ou seja, sua voz. O que precisamos aprender a fazer, como ouvintes e leitores, é ouvi-las, e aprender e reconhecer o som que cada uma delas emite. A palavra exclusivo, por exemplo, tem uma voz específica. Normalmente, as pessoas leem esta palavra sem se preocupar com o significado interior da mesma, apenas armazenam seu significado de forma singela. Porém, para conversarmos com as palavras, temos que fazer comparações ao ler. Por exemplo, o som que sensibiliza o nosso ouvido ao ler a palavra inclusivo é normalmente diferente da palavra exclusivo. Inclusivo soa menos comum, por isso o seu significado é mais "palatável" ao nosso cérebro. Podemos dizer que inclusivo significa algo que inclui ou engloba. Observando, agora, a palavra exclusivo, podemos entender que ela significa, opostamente, algo que exclui, ou que retira. Sem fazer esta comparação, poderíamos compreender a palavra exclusivo apenas como algo que é de posse única, por exemplo. Porém, o significado é mais profundo. Quando digo que algo é exclusivamente meu, estou, na verdade, excluindo todas as outras pessoas e incluindo apenas eu mesmo. É ou não é algo complexo isso?
   Cada palavra tem seu som, sua voz. Algumas palavras parecem ecoar melodias suaves quando penetram em nossos ouvidos. Já, outras, fazemos questão de as rejeitar antes mesmos que elas atravessem o nosso tímpano. A diversidade de palavras que existem fazem com que um texto seja como uma melodia que, ao ser ouvida, poderá produzir em nós a motivação para dançarmos esta música ou a rejeitarmos, não gostando de seus sons.
   A voz das palavras depende de três fatores: primeiro, do significado que ela tem; segundo, da pessoa que escreve ou diz tal palavra; terceiro, de quem a lê ou ouve. O primeiro fator é imutável, porém relativo, ou seja, cada palavra tem o seu significado particular, mas uma mesma palavra inserida em dois contextos diferentes terá, invariavelmente, dois significados diferentes. E compreender este significado é que faz o som desta palavra ser agradável ou não ao nosso ouvido. O segundo fator representa grande parcela do som, pois envolve o tom e o timbre de "voz" com que esta palavra é emitida. Uma pessoa feliz irá produzir palavras que expressem felicidade, ainda que esta pessoa não esteja em uma situação tão favorável. E o terceiro fator também representa boa parcela de como se recebe o som. Uma pessoa deprimida poderá interpretar o som de uma palavra como algo triste, ainda que ele não o seja.
   Portanto, este emaranhado de sons que são emitidos pelas palavras escritas ou faladas envolvem inúmeros fatores e podem ter significados muito diferentes para pessoas diversas. O importante, para todos, é que os que emitem esses sons saibam fazê-lo de forma criativa e construtiva, a fim de produzir sons agradáveis e úteis. Os que ouvem tais sons devem procurar compreendê-los de forma inteligente, ou seja, procurando compreender o sentido real que o emissor do som quis dar à palavra ou ao texto. E que as mensagens ditas possam produzir sons que tragam melodias suaves ou contundentes, mas todas com um conteúdo muito positivo e que leve os ouvintes a terem vontade de dançar esta música. Sejamos nós emissores ou ouvintes, que possamos fazer o papel que nos compete em cada um dos momentos. Este é o nosso trabalho, lidar bem com a voz das palavras.

Helvécio
   

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