sábado, 15 de dezembro de 2012

Um mundo mais coerente

   A maioria esmagadora das pessoas não consegue enxergar tão bem o outro lado. Exigem muito dos outros, mas não aceitam ser muito exigidas. Enfatizam as suas qualidades, mas menosprezam as qualidades dos outros. Consideram seus problemas enormes, mas diminuem muito os problemas alheios. Acreditam que sua realidade precisa ser enxergada pelos outros, mas não se esforçam sequer um pouco para vislumbrar a realidade dos seus semelhantes.
   Com certeza, qualquer pessoa precisa viver a sua vida, e apenas ela, pois é a única que pode ser vivida. Não há como viver a vida alheia, mesmo que se queira com todas as forças. Evidentemente, as atitudes que uma pessoa exerce enquanto "dona" da sua própria vida é que trarão o reflexo futuro na colheita que se fará. E essa colheita é mandatória, ou seja, querendo ou não, o sujeito vai colher o fruto da semente que plantou. E, nesse caso, viver a própria vida, ver o seu lado, é uma tarefa que cabe a esse ser humano único.
   Porém, volta e meia acabo dizendo que somos seres sociais. Não podemos viver isolados, pois somos seres humanos. E, se o somos, precisamos aprender a avaliar melhor nossas relações. Hoje tem-se dito muito que a maior vitória de um homem não é aquela que os outros dizem que ele teve ou terá, e sim a vitória que ficar registrada dentro desse homem. Sim, isso pode ser uma verdade  particular. Entretanto, uma vitória apenas particular e que não possa ter ou não tenha um reflexo social produtivo, deve ser reavaliada enquanto vitória. Há muitos "vitoriosos" que acabaram por se isolar circundando seus troféus solitariamente. O que adianta isso? Saborear um alimento sozinho é bom, mas poder compartilhá-lo com as pessoas que se gosta é infinitamente melhor.
   Quando uma pessoa ganha algo, é muito bom. Porém, é apenas isso. Há uma limitação enorme numa conquista solitária, pois nossa alma deseja ter com quem partilhar nossas experiências, sejam elas boas ou ruins. Existem muitas pessoas vivendo apenas no seu mundo, isoladas, com a visão limitada, precisando sair de suas "casas" e ver a realidade da vizinhança.
   O nosso mundo pode ter o tamanho que definirmos. Pode ser tão pequeno quanto o nosso quarto, mas pode ser tão grande quando a quantidade de amigos que podemos ter. Numa sociedade, todos têm seu papel. Até o mais humilde tem uma posição importante, pois suas atitudes de humildade farão uma diferença em situações onde ninguém mais saberia agir assim.
   Porém, existem outros mundos, os mundos das pessoas que são nossos semelhantes. Cada um tem suas mazelas, suas alegrias, suas frustrações, seus desejos, seus momentos de tentativas, de desistências. E nenhum de nós poderá descobrir em que momento o semelhante está, se ficarmos restritos em nosso mundo. Além disso, temos o vício de, tão logo passarmos a porta de saída de nosso mundo, já querermos que os outros adivinhem o que estamos sentindo. Isso tem um nome: falta de corência.
   Essa é uma das coisas que mais precisamos: coerência. Exigir dos outros o que permitimos que seja exigido de nós. Elogiar com sinceridade e gostar de elogios semelhantes. Criticar sabendo que devemos aceitar críticas. Encarar nossos problemas e aprender a ouvir os problemas alheios. Buscar um ombro amigo, sabendo que temos dois para oferecer. Enfim, aprender a compartilhar nosso mundo com a realidade de nosso próximo. Deixar de ter apenas um mundo individual para vivermos em um mundo mais coletivo, mais compartilhado. Isso é um pouco de algo que se chama sociedade.

Helvécio

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