Uma das maiores preocupações dos pais é em como educar seus filhos da melhor forma possível. A partir do momento em que o casal fica sabendo da primeira gravidez, uma preocupação surge - a de que, agora, as coisas vão mudar dentro de casa. Mais uma vida vai ocupar um espaço que era vazio. Mais uma voz se fará ouvir, com choros e sorrisos. E, a partir destas mudanças, o clima muda, os pensamentos se modificam, as prioridades são revistas, a importância de determinadas coisas simplesmente desaparece.
Desde que nasce, uma criança toma a atenção de todos os que ali habitam e das pessoas que são queridas ali. Chegam presentes, mimos, cuidados que antes não existiam. E essa presença, esse carinho e atenção vão evoluindo e se modificando à medida em que a criança cresce.
A partir de determinado momento, o menino ou a menina irão começar a sentir desejos por determinados objetos. O desejo é diferente da necessidade. A necessidade é uma característica intrínseca ao ser humano, ou seja, ela faz parte do mesmo de forma indissociável. Todos os seres humanos já nascem com suas necessidades, principalmente as básicas.
O desejo é um elemento que passa a fazer parte da vida de uma pessoa a partir do momento em que ela toma consciência de quem é. Quando ela compreende o que é ter alguma coisa, ela passa a criar dentro de si a vontade de possuir algum bem, seja um objeto ou outra coisa qualquer. Uma criança pode desenvolver desejos de forma precoce ou tardia, isso vai depender do seu círculo de convivência. Em um lar onde o consumismo não é tão presente, a criança pode desenvolver mais tarde os seus desejos. Em uma casa onde as pessoas tem maior costume de adquirir ou de desfrutar de determinados bens ou objetos, este desejo, certamente virá mais rápido.
Dentro deste cenário, um fato surge como um divisor de águas: o que é correto em termos de satisfazer os desejos de nossos filhos? Qual a melhor forma de educar uma criança? É satisfazendo todos os seus desejos ou ignorando todos eles? Será que existe um meio-termo? Será possível agradar um pouco as crianças, sem que elas tornem-se pessoas que não sabem valorizar as pequenas coisas e cada um dos objetos e bens que ganhou? Esta é uma questão de fundamental importância, a qual, nem sempre, estamos dispostos a enfrentar. Porém, neste texto, é exatamente isso que iremos fazer.
É uma triste realidade para alguns, porém, temos que dar aos nossos filhos o que eles precisam, o que, quase sempre não é o que eles querem. O nosso foco deve ser na necessidade deles, e não no seu desejo. O desejo pode ser provocado ilegitimamente. A necessidade surge (ou já existe) sempre de forma genuína. Também, o suprimento de um desejo nem sempre irá gerar uma satisfação plena. Muitas vezes será apenas um capricho realizado por poucos momentos. Porém, suprir uma necessidade é como beber água em um momento de sede. Não há outra coisa a se fazer!
São exemplos de necessidade: fome, sede, higiene, proteção, saúde, moradia etc. Quanto a estes exemplos, existe alguma dúvida de que devem ser supridos? Evidentemente que não! Agora, são exemplos de desejos: comer um chocolate, ir ao shopping, jogar video-game, viajar, comprar um celular de último modelo. E quanto a estes, podemos dizer que suprir a todos é um dever fundamental de qualquer pai e mãe? Com certeza, todos os que forem sensatos, dirão um sonoro não. Estes desejos deverão ser supridos à medida das possibilidades de cada família e, também, de uma forma que não se tornem corriqueiros.
É possível ver pessoas dizendo que nasceram no tempo errado, que hoje os valores estão invertidos. Porém, é muito mais difícil presenciar pessoas que realmente praticam isso, não falam apenas. A partir do momento em que a força do capitalismo pressiona a sociedade a adequar-se aos padrões de consumo modernos, os pais não admitem que seus filhos deixem de ter os equipamentos eletrônicos que seus colegas também tem. Parece uma loucura impetuosa a de não admitir que seus filhos sejam inferiores às outras crianças.
Dentro de casa deve existir o diálogo entre pais e filhos. Estes últimos devem saber a diferença entre desejo e necessidade. Ir à escola, estudar e aprender é um direito básico de toda e qualquer criança, pois ser educada é uma necessidade totalmente genuína! Porém, ter a mochila mais cara ou o celular mais moderno não é, de forma alguma, uma condição sem a qual a criança deixará de ter uma vida normal e feliz! É importante que os filhos cresçam sabendo disso, a fim de que possam discernir entre o que a sociedade quer impor e aquilo de que realmente necessitamos.
Aos nossos filhos, precisamos dar aquilo que lhes é de direito, por um simples fato: o suprimento de toda e qualquer necessidade vem de encontro ao papel dos pais. Um direito prescindido por qualquer pai pode causar em um filho a vontade de ir buscar esse direito fora de casa. E, a partir do momento em que um filho decide ir buscar isso em lugares alheios, a proteção deste filho está muito ameaçada. Para que uma criança decida procurar algo de que necessita longe da proteção e do carinho de seu lar, é porque ela encontrou-se tremendamente frustrada e deixou de ter expectativas de que ali, dentro do seu lar, ela poderia ter seus direitos providos e respeitados.
Aos nossos filhos, o direito que lhe é garantido, não apenas legalmente, mas também, moralmente. A eles o nosso respeito, o nosso carinho, a nossa consideração, a nossa atenção, o nosso tempo. A eles, acima de tudo, o nosso amor. Aos nossos filhos, pois essa é uma das maiores necessidades: se sentir amado. Os desejos, estes poderão ser supridos posteriormente, aos poucos. Assim, o sabor de cada um deles poderá ser testado individualmente, como um delicioso pudim de leite condensado que comemos aos poucos, pedaço por pedaço, saborosamente. Assim, eles aprenderão o valor de cada coisa, e não o preço que lhes é dado! É isso que temos que dar aos nossos filhos!
Helvécio
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