quinta-feira, 6 de outubro de 2011

COISAS DA IDADE

   É incrível como a visão das pessoas muda de forma brusca a ponto de não enxergarem o que fazem e dizem. Quando nos tornamos adultos, passamos a agir de forma totalmente diferente de quando éramos crianças. Adulto tem que ter responsabilidade. Tem que ter seriedade para encarar as coisas difíceis da vida. Tem que assumir a profissão, a família, tem que dar exemplo. Quando alguém assume um lar, assume tudo o que vem embutido no pacote. Começa-se a pensar nas contas do mês, na responsabilidade de ser o chefe da casa, no relacionamento com os vizinhos etc.
   Quando somos crianças, experimentamos as melhores coisas da vida. Pelo fato de não se ter nenhuma responsabilidade e poder ser espontâneo, consegue-se obter o que há de melhor na vida. Com certeza, uma criança não tem a real e ampla noção que um adulto tem dos cuidados que são necessários em nossa vida. Evidentemente, a criança enxerga as coisas com um olhar muito ingênuo, puro e com curiosidade total. Afinal, ela está na fase onde mais se aprende na vida.
   Porém, quando se torna adulta, muitas vezes a pessoa começa a ignorar as capacidades, habilidades e competências das crianças. É comum encontrarmos um grupo de adultos conversando e, quando uma criança se aproxima, querendo aprender ou conversar, querendo atenção, um dos adultos do grupo diz: "Sai pra lá, menino!". Para uma criança que está em plena fase de desenvolvimento e quer muito aprender sobre tudo, isso é um tremendo balde de água fria. Pensemos bem: por que uma criança não pode ficar em uma rodinha de adultos, aprendendo com eles? É muito importante permitir que uma criança ouça as falas de adultos, quando ela deseja. Afinal, isso nem sempre acontece. E, quando acontece, é sinal de que a criança está interessada em aprender algo que poderá ser muito importante para ela.
   Há duas fases na vida de uma pessoa que são incríveis: a infância e a melhor idade. Na infância, tem-se a inocência que faz com que se não tenha "filtros" para aprender. A criança recebe tudo o que chega a ela. Isso pode torná-la vulnerável, é fato. Mas o lado bom é que, para aprender, ela precisa ter contato com as experiências e conteúdos novos. E, desta forma, ela pode sensibilizar-se e avaliar vários conteúdos que a permitirão aprender futuramente sobre aquele conteúdo. Na melhor idade, ocorre algo muito interessante. Fisicamente, a pessoa já não tem mais vigor para alcançar certos alvos que gostaria. Porém, sua mente já está muito mais que ensinada sobre os verdadeiros valores da vida. A pessoa experimentou a infância, a juventude, a idade adulta e, agora, experimenta a fase da sabedoria. Ela tem uma visão de águia, que permite enxergar muito à frente dos demais. A segurança adquirida com os anos trazem a calma e a ponderação ao seu coração. E é isso que a torna capaz de dar conselhos de forma geral.
   Quando se é adulto, os citados "filtros" nos tornam incapazes de apreender muitos conteúdos que nos seriam interessantes. Com certeza, muitas oportunidade de aprendizado são desperdiçadas por nós por um simples fato: ao ouvirmos ou vermos determinados inícios de falas, filtramos e descartamos aquele pacote automaticamente. Pode até ser que o início da fala seria desinteressante, mas no bojo da mesma provavelmente haveria muitas coisas a nos ensinarem. As crianças não filtram isso. E os idosos ouvem pacificamente, por saberem que o que não é bom não os atingirá. Porém, quando se é adulto e ainda não se amadureceu para certos contextos, tem-se um medo inexplicado. Prefere-se fugir do que encarar os fatos.
   Precisamos muito aprender com as crianças e com os idosos. Temos que aprender um pouco da inocência das crianças. E temos que obter muito da sabedoria, calma e ponderação dos idosos. Desta forma, poderemos atingir de forma muito mais eficaz os nossos alvos. Não excluiremos oportunidades boas que poderão ser oferecidas a nós. E, tampouco, seremos afoitos para nos precipitar em meio a decisões que requeiram uma maior análise ou paciência. Coisas da idade. Mas que podem ser interceptadas de forma inteligente e sábia. Basta ter uma pequena coisa: vontade.

Helvécio

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