quinta-feira, 6 de outubro de 2011

MUROS OU PONTES?


   A metáfora é uma figura de linguagem incrível. Através dela é possível representar uma infinidade de situações fazendo um jogo de palavras. Isso é um recurso muito potente para ser utilizado na comunicação, tanto escrita quanto falada. Dizer, por exemplo: "Temos que construir pontes, e não muros" é uma afirmação que utiliza a metáfora de uma forma muito construtiva.
   Imaginemos quais são as diferenças entre muros e pontes. Quais as funções de um muro? Desde a antiguidade, os muros servem primeiro para oferecer segurança para quem fica do lado de dentro deles. E serve para impedir que pessoas externas penetrem no seu território. Serve, também, para que as pessoas de fora não vejam as suas atividades, lhe permitindo uma maior privacidade. O foco de quem constrói um muro é a sua própria pessoa. Pensa-se primeiro nele próprio, em sua proteção e segurança. O objetivo de um muro é separar, criar uma barreira.
   E uma ponte? Para que serve? Incrível! É justamente o contrário do muro. Enquanto o muro serve para separar algo que está conectado territorialmente, a ponte serve justamente para o oposto! Quando dois locais estão separados fisicamente e deseja-se alcançar o outro lado, a solução é construir uma ponte. É uma solução focada não apenas em uma pessoa, mas em todos que estão de ambos os lados. A finalidade de uma ponte é aproximar, encurtar os caminhos.
   Trazendo isso para o assunto de relacionamentos, podemos explorar de forma mais detalhada. O que seriam muros e pontes em termos emocionais ou em se tratando de relações interpessoais? Podemos começar refletindo no porquê de alguém construir um muro em torno de si próprio. O que seria esse muro? Uma pessoa que não fala muito de seus dilemas para outras pessoas está, por exemplo, construindo um muro. Uma pessoa que não costuma cumprimentar seus colegas, nem procura saber como está a vida deles está, também, erguendo um muro. É como se dissesse: tenho minha vida particular, ninguém tem nada a ver com isso. E também não estou interessado em saber da vida dos outros. Essas atitudes, dentre outras, mostram uma forma evidente de egoísmo, uma vida egocêntrica. Isso é extremamente prejudicial.
   As pontes que necessitamos construir são baseadas no motivo da existência do próprio ser humano. Por definição, somos seres humanos, não somos seres solitários. Ser humano é fazer parte de uma espécie que vive em comunidade, que necessita de convívio social para o bom desenvolvimento de sua raça. Isso é algo até fisiológico, antes mesmo de estar ligado à questões emocionais. Nossa pele sente falta de contato amigo, de carinho, de afeto, do calor de outros seres humanos.
   Construir uma ponte é dar bom dia para as pessoas que cruzam com você. É não fechar a cara quando alguém cita um defeito seu. É agradecer por alguma crítica feita em relação a alguma atitude sua. É sentar ao lado de alguém que parece estar triste e oferecer um consolo. É ficar horas junto com um amigo, apenas ouvindo seus clamores e lamentos. É desabafar, não escondendo os próprios sentimentos. É dizer: "eu preciso de você". É olhar nos olhos de uma pessoa tentando enxergar o que há por trás deles. É compartilhar os maus e bons momentos. Muito mais os bons do que os maus.
   Muitas vezes ficamos pensando por que algumas pessoas estão geralmente acompanhadas, enquanto que outras permanecem solitárias por mais tempo. Uma ótima explicação para isso é a questão de muros e pontes. Como a vida é feita de ecos, ou seja, recebemos, em geral, aquilo que oferecemos, ao construirmos pontes estamos "abrindo" nossa vida, nosso território para que pessoas amigas possam fazer parte do nosso convívio. Automaticamente, ao construírmos várias pontes, as pessoas farão parte do nosso relacionamento, e estaremos quase sempre acompanhados. Ao passo que, se construímos muros, estamos nos isolando, nos cercando. Isso é um sonoro NÃO à presença dos outros. Estamos dizendo, com nossa atitude: "Não preciso de você."
   Vale muito a pena pensar nisso. Nossa vida é muito curta para que fiquemos enclausurados em nossos caprichos, seja culpando outras pessoas ou o passado pelos nossos fracassos. Em vez disso, vamos construir pontes que permitam que conheçamos outras realidades, experiências de outras pessoas com vivências diferenciadas. Desta forma, conheceremos problemas talvez mais difíceis que os nossos, e poderemos, também, auxiliar o nosso próximo a amenizar seu sofrimento. Poderemos experimentar a tremenda sensação de ter de forma real, dentro de nós, o cumprimento de uma frase muito verdadeira: "É dando que se recebe." Mais que construir, vamos ser as verdadeiras pontes de que nós e nossos amigos precisamos.

Helvécio

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