segunda-feira, 7 de novembro de 2011

PENSO, LOGO, DESISTO

   Penso, tanto, que não faço. Quem muito pensa, não faz. É melhor arrepender-se do que se fez, do que ter que lamentar por não ter tido coragem de tentar. Melhor errar para mais, do que para menos. Quem não teve a ousadia de tentar acertar, jamais conhecerá o sabor de conseguir.
   Frases como essas podem ser ouvidas e lidas nos mais diversos locais. Elas mostram uma realidade, de certa forma parcial, porém, inegável: a de que precisamos, em muitas situações, simplesmente agir, sem pensar. O antagonismo de afirmar que precisamos ser equilibrados e ponderados e, depois, dizer que devemos agir sem pensar é real. Porém, nossa vida é cheia de meandros e nuances com os quais nos encontramos. O objetivo, nesse caso, é descobrir em quais deles devemos agir sem pensar.
   Imagine uma oportunidade de ir morar em um país bem distante, sem conhecer pessoa alguma, tendo que ficar lá por três anos sem poder voltar ao país de origem, para aperfeiçoar-se em uma profissão do futuro. Caso alguém receba uma proposta dessas e tenha que responder isso em trinta segundos, ela não poderá pensar. Caso faça isso, perderá essa chance única. Imagine passar por uma pessoa que te olhe de relance e você pense que aquela poderia ser a mulher ou o homem da sua vida. E você diz (pensa): ah, é apenas mais uma pessoa com a qual eu cruzei por aí. Imagine um filme que lhe mostra uma mensagem reveladora, a qual lhe impele a mudar radicalmente sua forma de agir. E você diz (pensa): ah, isso é um filme, não tem nada a ver com a realidade.
   Penso, logo, desisto. Penso, logo, filtro. Penso, logo, seleciono. Penso, logo, descarto. Penso, logo, analiso. Penso, logo, desisto de crer. Penso, logo, racionalizo. Penso, logo, esqueço as emoções. Penso, logo, desanimo. Penso, logo, enfraqueço. Penso, logo, não vejo além. Penso, logo, sou mais eu mesmo. Penso, logo, me iro. Penso, logo, choro. Penso, logo, viajo no tempo. Penso, logo, imagino longe, muito longe. Penso, logo, perco o foco. Penso, logo, me embaraço. Penso, logo, perco o rastro. Penso, logo, me solidarizo com os céticos. Penso, logo, não faço. Penso, logo, desisto.
   Pensar é necessário. Mas não no momento em que o correto é agir. Pensar é recomendável. Mas não no momento em que o nosso eu adulto impede o nosso eu criança de enxergar com a pureza da alma. Pensar é vital. Sim, no momento em que estamos em um patamar totalmente seguro e no qual não precisamos tomar nenhuma atitude que necessite de intuição e sim, de ponderação.
   Devemos, realmente, fazer como Jesus Cristo diz nos evangelhos: "Aquele que não for como uma criança, não herdará o reino dos céus." Sabe como a criança pensa? Bem, nos raros momentos em que ela pensa, ela o faz com o coração, ou seja, sentindo. É uma forma de pensar imponderável, ou seja, um pensar instantâneo. A única pergunta que uma criança faz a si mesma, ao pensar, é a seguinte: isso é bom para mim? Se sim, faço. Se não, não faço. Sejamos como as crianças. Descubramos essa forma menos complicada, menos adulta ou instantânea de pensar. Caso contrário, seremos obrigados a recitar para nós mesmos essa eterna frase: PENSO, LOGO DESISTO!

Helvécio

3 comentários:

  1. Esse me fez pensar antes de comentá-lo.As vezes passamos por algumas dificuldades na vida que optamos por pensarmos bem antes de agirmos.Mas lendo , relendo,ponderando,ruminando cheguei mais uma vez a conclusão que tens razão.Que em vários momentos de nossa vida temos que pensar como crianças,recuperar a magia da infância e não esquecermos que tudo está sobre a poderosa direção de DEUS!!!!!E assim ,não desistiremos tão facilmente de sermos mais felizes por medo de não acertamos.Paulo Marcos e Carla Patrícia.

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  2. Muito interessante o texto PENSO, LOGO DESISTO! Pra mim, eu me resumiria em único trecho, "SIMPESMENTE AGIR SEM PENSAR"...E olha que eu tento o máximo pensar como as crianças com toda inocência de um ser simples, natural e verdadeiro...

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  3. "A única pergunta que uma criança faz a si mesma, ao pensar, é a seguinte: isso é bom para mim? Se sim, faço. Se não, não faço."

    Nossa... como é dificil isso. A gente pensa tanto, tanto, e as vezes mesmo sabendo que tal coisa é ruim acaba fazendo, acaba tomando a decisão errada. Talvez se nao tivesse pensado antes, teriamos feito a coisa certa... Mas depois de tanto pensar e de ter agido errado, as vezes nem se tem a chance de mudar as coisas.. e ai vem de novo o pensar, pensar, pensar que acaba na desistência....

    Gostei desse texto... Mais um pra minha lista de favoritos..

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