Casas antigas, em contraste com construções modernas, dizia eu para o meu colega de trabalho, andando pelo Rio de Janeiro. Fiquei observando cada parapeito de janela existente naqueles sobrados antigos das ruas do centro do Rio. E, a cada série de sobrados que encontrávamos, surgia um prédio novo ao lado deles. Às vezes, era uma agência bancária, às vezes, era um novo bar, às vezes, uma loja moderna.
Ao observar o contraste estilístico destas diferentes construções, me remontei aos tempos de império. Fiquei tentando sentir o sabor dos ares do século XIX, na antiga capital de São Sebastião do Rio de Janeiro.
As lindas donzelas com os delicados cotovelos apoiados nos parapeitos, com seus vestidos longos, chapéus de diferentes estilos e cabelos compridos, esperavam os dedicados poetas e menestréis que, ao cair da tarde, vinham passeando calmamente pelas calçadas do centro do Rio, com seus Largos e Praças. Vinham em grupos, cada qual com seu instrumento. Paravam em frente às janelas e entoavam longas canções para suas amadas.
Os tempos eram outros. As pessoas cumprimentavam-se olhando nos olhos e trocando aperto de mãos. Trocavam demorados papos. Contavam longas histórias. Escreviam poemas. Compunham canções. Havia o som das carruagens passando lentamente conduzindo os pomposos senhores e senhoras.
Que disparidade! Hoje, no Largo da Carioca, ouvem-se os fortes passos dos apressados trabalhadores que, sem calma, apertam o passo para chegarem ao metrô e conduzirem-se ao seu local de trabalho. A confeitaria colombo, hoje, é ponto de encontro da minoria elitizada, que tem o privilégio de sentir o glamour que seus antepassados conterrâneos vivenciaram.
Ao lado dos antigos sobrados, as modernas agências bancárias, utilizando sistemas com cartões magnéticos, internet e conexão via satélite, funcionando vinte e quatro horas. Também, as modernas lojas, com suas grifes ultra atuais, oferecendo aos possibilitados roupas inovadoras que fazem parte da moda do século XXI.
Que contraste! Quantas décadas de distância! Quantos acontecimentos ocorridos ao longo desse tempo! O Rio de Janeiro já não é mais a capital, apesar de conter inúmeros resquícios desse tempo. O Brasil já não é mais um império, apesar, também, de ainda haverem práticas tão antigas quanto essa era. As jovens donzelas já não se debruçam mais nos parapeitos das janelas. Também não há mais os menestréis passeando pelas calçadas em grupos.
Porém, uma coisa mantém a conexão entre estes dois tempos: as pessoas. Apesar de distantes, as mentes do Rio antigo tinham os mesmos anseios que as atuais. Apesar do século, as necessidades são, basicamente, as mesmas. O que as pessoas querem é ser felizes. As mulheres ainda sonham com o homem ideal para elas. Os homens continuam com o mesmo desejo de conquista, apesar de muito diminuído em quantidade e qualidade. E as histórias e filmes de amor ainda existem, apesar de todo esse tempo.
Ah, o contraste dos anos não pode submergir o desejo da alma humana, que é de ter seu interior preenchido. Ah, se as pessoas soubessem o quanto necessitamos de permitir que coisas boas sejam depositadas dentro delas!
Ah, o antigo e o atual! Tão distantes e tão próximos! Tão diferentes e com tantas semelhanças! Ambos interessantes, ambos intrigantes. Um histórico, o outro retórico!
Helvécio
Você conseguiu fazer-me viajar pelo tempo,que poder de escrita!!!!!Vibrei com seu paradoxo entre o antigo e o novo,mas o melhor foi sua conclusão,que o que mantém essa conexão são as pessoas e os sentimentos que a movem,e esses sentimentos são o amor,a cumplicidade e a necessidade de ser feliz.Que frase mais linda colocaste:Tenho que parafraseá-la:"Ah, o contraste dos anos não pode submergir o desejo da alma humana, que é de ter seu interior preenchido." Ou seja:Amar é a certeza de que a nossa vida não está se passando inutilmente,mas que estamos depositando algo bom em alguém!!!!Arrasou mestre!Paulo Marcos e Carla Patrícia
ResponderExcluirEntao é esse o formato que voce captou dos distintos momentos ou, como voce disse, nao tao distintos assim. Realmente viajei contigo e concordo: nao pode esquecer que somos pessoas que desejam e devem buscar a felicidade. Importante lembrar que a paz/felicidade muitas vezes se conquista com a guerra/luta.
ResponderExcluirMuito bem, vou reservar mais tempo para te acompanhar na leitura.
Grande Serafim. Algumas vezes das que estávamos andando pelas ruas do Rio, o Rubens comentava comigo: Helvis, sugiro que voc~e faça um texto mostrando a diferença entre as construções antigas e as atuais. Demorei um pouco, mas o texto saiu. Continue lendo, meu amigo. Obrigado pelo prestígio.
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