Meus caros leitores, aqui vai um desabafo. Resolvi escrever esse texto após refletir durante bastante tempo e conversar com várias pessoas sobre o tema. Vi que precisamos compreender muito sobre o nosso povo brasileiro e, após compreender, identificar alguns fatores que foram auto-incorporados na formação da identidade dos nossos conterrâneos tupiniquins, ou seja, em nós mesmos.
Analisando o surgimento de várias nações ao redor do mundo, podemos ver como se deram os diferentes tipos de colonização e, por conseguinte, como ocorreu a formação da identidade cultural, política, religiosa e moral de cada nação, principalmente a nossa.
Algumas nações que foram colonizadas por povos de origem anglo-saxônica, a sua maioria de língua inglesa, tiveram uma origem nobre. Boa parte dessas nações foram povoadas por empreendedores e desbravadores que tinham como objetivo construir um novo país, desfrutando de suas riquezas e implantando um sistema de desenvolvimento baseado nas atividades que já existiam nos países colonizadores. Com isso, a terra, as riquezas e tudo o que existia nas novas colônias era beneficiado, cultivado e trabalhado para que aquela nação surgisse e se tornasse um país rico e com valores de crescimento e de desenvolvimento. Evidentemente que esse processo levou centenas de anos.
Outras nações, as quais foram descobertas e colonizadas por povos de origem latina, tiveram sua história bem diferenciada. Um enorme exemplo disso é o Brasil. Nossos, hoje irmãos, portugueses construíram a nossa história inicial de uma forma bem diferente. Desde os primeiros grupos de descobridores e desbravadores que aqui chegaram, sabe-se que o principal propósito dos mesmos era a exploração das riquezas da nossa antiga Terra de Santa Cruz. Portugal era um dos principais países com tradição em navegação e um dos propósitos do Rei era o aumento de suas riquezas para que sua frota e seu corpo militar se tornasse ainda mais forte. Aliado a isso havia, ainda, a nobreza, que desfrutava de imensas regalias por estarem sempre próximas ao poder. Tudo isso contribuía para que a coroa destinasse a si própria a maioria das riquezas que aqui havia.
Nossa antiga Ilha de Vera Cruz era riquíssima em madeira de lei, o pau-brasil. Além disso, a mata atlântica possuía quantidade sem fim de espécimes de animais silvestres, além de plantas raras e madeiras nobres. Somando-se a isso, alguns desbravadores descobriram locais especialmente ricos em pedras preciosas, tais como o ouro, diamante, dentre outras. Desta forma, o período das primeiras décadas foi de muita exploração e quase nada de investimentos portugueses em nossa terra, a não ser as fortalezas instaladas com o objetivo puro e simples, não de armar nosso país, mas sim de criar recursos de defender o território contra outras nações que também queriam se apossar desta terra.
Observando essa trajetória, podemos identificar alguns princípios que provavelmente influenciaram de forma contundente a formação da identidade do povo brasileiro. O estilo de vida de um povo não se forma da noite para o dia. Os princípios, costumes, práticas e ideais vão passando de pessoa para pessoa, de pai para filho, de grupos para grupos, geração após geração. E, neste sentido, existe uma explicação para o surgimento do que conhecemos hoje como "o jeitinho brasileiro".
Veja bem, o país considerado nosso pai, nosso formador, sempre quis auferir vantagens de nossas riquezas. Ao invés de investir, sugava-se do que aqui existia de melhor. Obviamente, a imaginação das pessoas que presenciaram esses primeiros anos e décadas foi sendo estimulada e se acostumaram a esse estilo de vida. Era considerado vencedor ou bem sucedido aquele que conseguia explorar mais e distribuir em solo português. Portanto, quem não era eficiente nesse processo, era considerado um perdedor. Ou seja, levar vantagem era considerado como algo correto e de valor. E as atividades econômicas foram sendo estabelecidas tendo esse conceito como base.
Ou seja, um comerciante brasileiro entendia como prática correta levar vantagem de seus clientes. No processo de negociação entre dois fazendeiros, por exemplo, aquele que auferisse maior lucro considerava-se o vencedor. E isso incluía utilizar alguns artifícios não lícitos. E assim também, nos relacionamentos interpessoais e entre as famílias, ocorria da mesma forma. Ou seja, a base do sucesso foi definida como sendo, principalmente, "vencer" o próximo, quaisquer que fossem os recursos utilizados.
Refletindo nessas questões, podemos compreender que o conceito de grupo, de equipe, de união, de coletividade, simplesmente não foi trabalhado durante séculos. Isso tudo explica, pelo menos, em parte, a questão pela qual nossos concidadãos, ou seja, nós gostamos tanto de levar vantagem em alguma questão. Adoramos disputar algo. Só para ver quem será o vencedor. E aquele que conseguir levar a maior vantagem é tido como o mais bem sucedido.
Esta é, também, uma das grandes motivações para a péssima distribuição de renda, para a enorme quantidade de latifúndios, para a diversidade de práticas de corrupção existentes nos variados segmentos da sociedade e para muitos tipos de ensino existentes hoje. A competição é benéfica, desde que se ensine aos competidores que eles devem competir utilizando apenas os recursos lícitos. Caso contrário, a vitória não é legítima. Porém, aqui no Brasil, o que importa é vencer, é levar vantagem. A legitimidade não faz peso no bolso e nem paga as contas. É assim que uma grande parcela de nossa população pensa. E você, como pensa? Responda isso e veja se não é, também, um praticante sorridente do famoso "jeitinho brasileiro".
Helvécio
Veja bem, o país considerado nosso pai, nosso formador, sempre quis auferir vantagens de nossas riquezas. Ao invés de investir, sugava-se do que aqui existia de melhor. Obviamente, a imaginação das pessoas que presenciaram esses primeiros anos e décadas foi sendo estimulada e se acostumaram a esse estilo de vida. Era considerado vencedor ou bem sucedido aquele que conseguia explorar mais e distribuir em solo português. Portanto, quem não era eficiente nesse processo, era considerado um perdedor. Ou seja, levar vantagem era considerado como algo correto e de valor. E as atividades econômicas foram sendo estabelecidas tendo esse conceito como base.
Ou seja, um comerciante brasileiro entendia como prática correta levar vantagem de seus clientes. No processo de negociação entre dois fazendeiros, por exemplo, aquele que auferisse maior lucro considerava-se o vencedor. E isso incluía utilizar alguns artifícios não lícitos. E assim também, nos relacionamentos interpessoais e entre as famílias, ocorria da mesma forma. Ou seja, a base do sucesso foi definida como sendo, principalmente, "vencer" o próximo, quaisquer que fossem os recursos utilizados.
Refletindo nessas questões, podemos compreender que o conceito de grupo, de equipe, de união, de coletividade, simplesmente não foi trabalhado durante séculos. Isso tudo explica, pelo menos, em parte, a questão pela qual nossos concidadãos, ou seja, nós gostamos tanto de levar vantagem em alguma questão. Adoramos disputar algo. Só para ver quem será o vencedor. E aquele que conseguir levar a maior vantagem é tido como o mais bem sucedido.
Esta é, também, uma das grandes motivações para a péssima distribuição de renda, para a enorme quantidade de latifúndios, para a diversidade de práticas de corrupção existentes nos variados segmentos da sociedade e para muitos tipos de ensino existentes hoje. A competição é benéfica, desde que se ensine aos competidores que eles devem competir utilizando apenas os recursos lícitos. Caso contrário, a vitória não é legítima. Porém, aqui no Brasil, o que importa é vencer, é levar vantagem. A legitimidade não faz peso no bolso e nem paga as contas. É assim que uma grande parcela de nossa população pensa. E você, como pensa? Responda isso e veja se não é, também, um praticante sorridente do famoso "jeitinho brasileiro".
Helvécio
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