quinta-feira, 22 de agosto de 2013

SOCIEDADE DETERIORADA. TUDO É RELATIVO?



   As sociedades tem se deteriorado muito em seus valores, principalmente os morais. As coisas perenes são abandonadas e as passageiras são assumidas como necessárias. As verdades que sempre foram consideradas como boas, tem sido consideradas relativas e os valores relativos tem sido absolutizados. Em decorrência de avanços e progressos cujas consequências quase sempre são desconhecidos, tomam-se decisões que mudam cada vez mais o rumo de suas vidas, sem saber ao certo para onde estão indo.
   Vamos refletir mais profundamente sobre esta questão, a fim de ilustrar melhor e podermos pensar de forma clara e racional sobre o problema. Tomando como exemplo a família, que é a base da sociedade, (é dela que saem todos os indivíduos que serão pessoas influentes na sociedade), vamos analisar alguns fatores. Há algumas décadas, a autoridade dos pais não era questionada pelos filhos. Eles simplesmente obedeciam as ordens que eram dadas pelo pai e pela mãe. Atualmente, a psicologia moderna, as instituições que defendem as crianças e os direitos humanos tem influenciado enormemente a sociedade e tem modificado muitos paradigmas, inclusive esse da obediência.
   Em outro texto, falamos sobre as origens da família e dos primórdios da civilização. Nele, dizemos que um dos princípios mais importantes da família é a hierarquia, que é o meio pelo qual as relações interpessoais e as tarefas individuais dos componentes daquela família se organizam de modo a manter um equilíbrio e permitir um desenvolvimento de cada pessoa e do conjunto como um todo. Não havendo hierarquia, o caos se instala, havendo a dissolução dos elos que mantém os familiares fortemente ligados. E a hierarquia pressupõe tarefas cotidianas que precisam ser planejadas, delegadas, executadas e verificadas. Os pais são os responsáveis pela maior parte das tarefas. São eles que as planejam, delegam, verificam e ainda executam algumas. Aos filhos (na infância, adolescência  e até adultos) cabe o papel de obedecer as ordens que os pais delegam (pois elas já foram planejadas com o objetivo de manter a família unida e coesa). Por exemplo, o pai dizia ao filho para buscar lenha em um local próximo à casa, para que o fogo pudesse ser aceso para preparar a comida da refeição. Ainda que esta tarefa de buscar a lenha pudesse ser muito simples, a ponto de o filho a considerar talvez desnecessária, ela permitia a provisão para o fogo. E o fogo aceso com lenha era o meio utilizado para cozinhar os cereais e a carne. E estes, por sua vez, mantinham todos os familiares alimentados e vivos. Portanto, a relação final entre a simples tarefa de buscar lenha e sobreviver era muito estreita.
   Vamos aprofundar esta análise. Do ponto de vista dos filhos, algumas ordens dadas pelos pais eram (ou são), muitas vezes, duras e difíceis de serem cumpridas. Isto ocorria (ou ocorre) pela natureza reacionária e rebelde dos filhos e, às vezes, pela forma autoritária com que os pais mandavam ou mandam nos filhos, sem dedicar a eles um pouco de carinho e compreensão. Na maioria das vezes, a vontade de dizer um não para uma ordem dada pelos pais era enorme. Muitos filhos desejavam ardentemente isso, no intuito de que pudessem provar de uma autonomia ou liberdade que lhes permitisse se sentirem mais gente, mais reconhecidos e com uma importância real. 
   Evidentemente, isso já mudou muito em várias sociedades desde os primórdios. As relações interpessoais na família já sofreram modificações tão drásticas que, em alguns casos, a hierarquia foi simplesmente abolida. Em alguns lares, os filhos mandam, literalmente, nos pais. Alguns pais batalham por uma vida toda para dar o melhor para seus filhos porém, perderam totalmente as rédeas da relação e os filhos passaram a dar as ordens dentro de casa, dizendo o que deve e o que não deve ser feito. 
   Alguns paradigmas propostos por instituições que estudam as questões antropológicas e sociológicas relatam que estas mudanças fazem parte de um processo natural pelo qual o ser humano deve passar, uma vez que tudo é relativo e as modificações que tem que acontecer virão acontecendo naturalmente. A observação de que a ordem dentro da família que existia na maioria dos casos e ainda existe em boa parte dos lares é um conceito muito importante e benéfico tem sido abandonado por boa parte de órgãos e organizações que defendem os direitos humanos. É um conceito antes tido como absoluto e que hoje tem sua relativização ameaçada.
   Evidentemente, não podemos fugir de mudanças mandatórias que vem com o virar do calendário a cada ano. O autoritarismo paternal que não permitia sequer um questionamento por parte dos filhos é algo que está praticamente abolido e que é tido como uma forma de violência. O fato de permitir que cada membro da família pense, reflita e questione com curiosidade todos os fatos que ocorrem dentro de um lar é uma necessidade prioritária, que deve ser defendida e buscada, para que cada pessoa tenha esta parte da formação de sua personalidade iniciada na infância, continuada na adolescência e na idade adulta, até que seja sedimentada. Existem vários casos de pessoas adultas que continuaram sofrendo por traumas iniciados em sua infância, simplesmente porque seus pais não lhes permitiam manifestar suas vontades e curiosidades naquela época. Uma parte de seu crescimento e desenvolvimento foi, literalmente, podado, deixando uma enorme lacuna no seu cérebro e em sua história. Isto lhes causou, com certeza, enormes prejuízos.
   Porém, alguns conceitos extremamente fortes, sedimentados e que fazem parte da base de uma sociedade não podem ser prescindidos por qualquer argumento, por mais forte que este seja. Por exemplo: se, para crescer, uma criança precisa se alimentar, não se pode prescindir de ensinar a ela que se alimente a fim de manter seu organismo bem nutrido, para que o mesmo tenha suas funções vitais e de crescimento mantidas corretamente. Este exemplo está ligado às questões de hierarquia e de ordem dentro de uma família. Atualmente, as relações familiares estão, de tal modo, fragilizadas, que homens e mulheres tem sido muito mais eficazes na administração profissional do que em seus próprios lares. O fortalecimento das estruturas organizacionais tem sido abordado de forma cada vez mais veemente, enquanto que as relações familiares tem sido deixadas a segundo e terceiro planos com mais frequência. O simples fato de se ter extrema facilidade de encerrar uma relação familiar através de um divórcio faz com que a busca de soluções para problemas na relação seja deixada de lado, uma vez que é mais fácil desistir e tentar começar tudo novamente com outra pessoa e em outra situação diferente. Porém, nas empresas, isso não tem acontecido da mesma forma. Os sócios não pensam com tamanha frequência em dissolver a sociedade diante de problemas organizacionais com a mesma facilidade que um casal pensa em se separar. Daí, vemos a importância que a família não tem tido nas sociedades modernas.
   As mudanças radicais que temos visto nos países mundo afora mostram que valores anteriormente tidos como pérolas e defendidos majoritariamente, são abandonados, pelo simples fato de que é mais fácil não se preocupar e não assumir a responsabilidade de lutar por manter um determinado valor, uma vez que as forças contrárias a esta manutenção são muito fortes e vem de todos os lados, alguns imprevisíveis.
   Diante disso, levantamos o seguinte questionamento: tudo é relativo? Devemos tomar a posição passiva de aceitar toda  e qualquer mudança que vem sendo proposta, seja por pessoas individuais, como por entidades de classe? Vamos avaliar os valores que vem sendo mantidos pelo ser humano através dos séculos, os quais tem permitido que as sociedades se desenvolvam, que o ser humano construa o mundo no qual vivemos e que as ciências diversas evoluam cada vez mais, a ponto de se buscarem soluções e inovações que permitam que a vida seja mais benéfica a todas as pessoas. Estes valores, tais como honestidade, educação, verdade, dedicação, esforço, honra, merecimento, consideração, gratidão, respeito e todos demais, devem ser ignorados ou menosprezados em detrimento de mudanças anunciadas como soluções mandatórias a qualquer custo? Evidentemente, a resposta é não! Não, um não em letras garrafais emitido por todo aquele que defende a vida humana, não apenas na questão de sobrevivência, mas também na questão de qualidade de vida no sentido integral. Não permitamos que relativizem aquilo que é absoluto, os nossos valores! Ainda que sejamos pequenos individualmente, que sejamos unidos, sem perder a força que sempre uniu as pessoas e é a única que pode continuar nos mantendo unidos! Essa força que nos faz enxergar nosso semelhante como um ser igual a nós mesmos, dependente de nosso auxílio e capaz de nos auxiliar em nossas necessidades. A sociedade é formada por pessoas, e essas pessoas somos nós! Portanto, sejamos seres pensantes e que trabalham para alcançar um futuro melhor, para nós e nossos descendentes. E que a história que eles vierem a escrever e descrever em um futuro próximo possa ser melhor do que imaginamos que seja. Tenhamos fé em Deus e trabalhemos para isso!

Helvécio

Nenhum comentário:

Postar um comentário