quarta-feira, 4 de setembro de 2013

ISSO NÃO É ASSUNTO DE CRIANÇA!



   Um dos grandes desejos da maioria das crianças é tornar-se um adulto. Esse sonho povoa a mente de muitos pequeninos, e eles são motivados, muitas vezes, pelo fato das proibições que lhes são impostas por serem infantis. De repente, o filho quer ir em algum lugar sozinho e o pai lhe diz: - Meu filho, você ainda é muito pequeno para fazer isso sozinho. Quando você crescer, será responsável e terá a sua oportunidade. Já, os adolescentes almejam a maioridade mais que tudo na vida, pensando que essa "liberdade" os tornará tão independentes quanto poderosos para vencerem todos os obstáculos que se colocarem à sua frente. Acreditam que o simples fato de poder dirigir um automóvel após os dezoito anos causará uma transformação enorme em suas vidas.
   As mudanças de fases pelas quais uma pessoa passa causam muitas transformações em sua vida. E o fato de almejar capacidades ou propriedades que só chegam nas próximas fases trazem uma certa ansiedade para as crianças e adolescentes também. Em algumas situações, eles chegam a considerar-se inferiores apenas por não terem atingido tais capacidades ou idades. Isso é um fato em nossa sociedade, que exclui e muito as crianças de certos círculos sociais. Alguns, de forma lógica e coerente. Outros, nem tanto.
   O assunto abordado neste texto fala exatamente destes outros círculos sociais dos quais uma criança é excluída por um simples preconceito. Quando criança, eu me achava um menino muito capaz, dono de si em várias situações onde decisões tinham que ser tomadas, onde o raciocínio era exigido, onde problemas apareciam e tinham que ser resolvidos. A capacidade de tomar atitudes imediatas diante de circunstâncias desfavoráreis e o sucesso em algumas delas me diziam que eu tinha boa capacidade de executar tarefas, ou seja, eu era um ser humano normal e capaz, apesar de ainda ser uma criança. Apesar dessa minha convicção, algumas pessoas ao meu redor não tinham a mesma visão que eu, e em várias circunstâncias me impediam e impediram de realizar determinadas tarefas que eu considerava simples e de fácil resolução. 
   Este ato de barrar a minha participação em algumas oportunidades fez com que eu criasse o hábito de observar como os adultos tratam as crianças. Ao longo de minha vida fui observando diversas pessoas e a forma como elas tratavam, não apenas seus filhos, mas as outras crianças também. E, infelizmente, tive algumas constatações ruins, para minha decepção. Apesar de adquirirem mais conhecimento, galgarem posições sociais mais elevadas, passarem a ter hábitos aparentemente mais saudáveis, muitos adultos ainda não conseguiram descobrir o universo infantil. Existem dois extremos nesta questão do tratamento de crianças e adolescentes. O primeiro, que não será objeto desta reflexão, é a liberdade exacerbada que é dada às crianças e adolescentes, deixando de os punir e castigar em vários momentos necessários em suas vidas. Porém, isso é assunto para outro texto.
   O tema principal, aqui, é a questão da mente infantil, pueril, com suas limitações, indecisões, desejos, ímpetos hormonais, mas que estão associados com capacidades incríveis que são ignoradas a despeito das características "negativas".
   Os adultos precisam entender que, ao excluir uma criança de um diálogo ou uma troca de ideias de forma desnecessária, poderão excluir, também, a oportunidade de ensinar conceitos e valores fundamentais para que esta criança sinta-se normal, capaz, inserida na família e círculo de amizades. Poderão excluir desta criança vários sonhos, alguns totalmente factíveis em sua vida adulta. Muitos crianças tem seus sonhos anulados quando elas tem podadas as oportunidades de sonhar com quem acredita nelas. Muitos adultos não tem a mínima ideia do sentimento de vazio, de incapacidade e de frustração que uma criança sente quando ela é excluída da oportunidade de conviver com adultos. Vejam bem: se uma criança se aproxima de um círculo de conversa entre adultos, é porque ela quer, no mínimo, aprender alguma coisa. E, se ela não aprender com esses adultos que lhe são próximos e, por conseguinte, confiáveis e com valores nobres, com quem ela irá aprender? Certamente, se novas oportunidades lhe forem retiradas, ela poderá perder a paciência e a vontade de continuar tentando e insistindo em ter tais chances e, fatalmente, em algum momento ela poderá aproximar-se de uma pessoa mal intencionada, a qual lhe dedicará um tempo razoável para lhe ensinar conceitos diferentes daqueles que ela considerava bons, e aí terá início uma fase extremamente complexa na vida desta criança. Apenas para registro, é assim que se inicia a experiência com drogas de muitos adolescentes. Vejam o quanto é importante dar oportunidade, espaço e abertura para que as crianças façam parte do círculo de convivência dos adultos que são amigos e familiares.
   O que devemos pensar mais profundamente sobre isso? Penso que devemos olhar para dentro de nossas casas e refletir em como está nossa convivência com nossos filhos, sobrinhos, netos e demais crianças e adolescentes. Talvez, alguns deles jamais tenham se manifestado sobre isso, e nunca tenham reclamado, pelo simples fato de não terem voz ativa nesse meio. Mas, se formos investigar, poderá haver alguma insatisfação nestas pessoas que tanto merecem nossa consideração.
   Meus caros, as crianças são pessoas normais, como nós, adultos. Talvez muito mais normais, até. A diferença é que elas ainda não tem a personalidade formada, não tem a autossegurança adquirida, não passaram por algumas dificuldades que as tornassem mais fortes. Porém, elas merecem toda a nossa consideração e espaço para se manifestarem e aprenderem o máximo possível de tudo o que somos, o que sabemos e o que praticamos. O desenvolvimento pleno de uma criança e de um adolescente passa, necessariamente, pela convivência dele com os adultos que os envolvem, a fim de que eles façam comparações, autoavaliações e que aprendam através das palavras ditas pelos adultos mas, principalmente, do exemplo dado por eles. É isso que toda criança espera, que ela tenha o seu espaço respeitado, o espaço de uma pessoa. E é só isso que temos que fazer, ceder-lhes o espaço que já é delas! Isso é assunto de criança, sim senhor!

Helvécio

2 comentários:

  1. Adolescentes são reconhecidos pelos erros que comentem por impulsos ou por exageros. Muito disso eu creio que seja por conta da falta de informação e de conhecimento das reações que as ações deles provocam, e tudo isso vem do fato de que esse conhecimento não lhes foi passado em todo o seu período infantil como citado em seu texto, e como o proibido é sempre o desejável, proibir demais acaba virando um tiro no pé.

    ResponderExcluir
  2. A maneira de lidar com a vida vai depender das sementes que foram plantadas na infância,cada família tem o filho que produz.O caminho para uma relação educativa sadia está na qualidade da comunicação. Os pais terão dificuldade em cumprir a sua missão de primeiros educadores se comunicarem pouco ou mal. Quem quer educar os filhos, deve escutar com atenção, falar sem tabus(claro que com a devida sabedoria), dialogar com abertura de espírito, elogiar com sinceridade, repreender de forma construtiva e amar incondicionalmente.

    ResponderExcluir