Falar de conhecimento é muito importante, pois qualquer povo se desenvolve mais à medida que mais conhece, principalmente sobre os diversos assuntos inerentes à sua vida cotidiana. Um povo sem atitudes é, geralmente, produto de baixo conhecimento. Um povo ignorante, no sentido estrito da palavra (que ignora vários assuntos), é um povo com mais propensão a ter a opinião moldada conforme a vontade e o intuito de quem o direciona. Isso é geralmente conceituado como "massa de manobra". É um povo que pode ser incentivado ou condicionado a agir conforme a vontade de quem o domina.
Algumas coisas nessa vida são extremamente incongruentes e até contraditórias. Uma delas é a dose de paciência que cada pessoa tem nas diversas fases da vida. Enquanto criança, sem maturidade e sem domínio próprio, um ser está ainda na fase de aprendizado e compreensão sobre o quanto é necessário ser paciente com situações e pessoas. diversas. Após a fase da adolescência, na qual o aspecto hormonal influencia sobremodo o comportamento, chegam as fases de maior aprendizado e sedimentação, a juventude e idade adulta.
A medida de paciência que portamos em nosso ser pode se alterar de acordo com o humor diário. Porém, em geral, a mesma depende de outros fatores que podem ser avaliados de forma mais racional. Um deles é o modo como vemos as outras pessoas. As pessoas mais pacientes são, geralmente (ainda que isso seja um contrasenso), as mais satisfeitas com a vida, ou seja, aquelas que não estão com uma ânsia ou obsessão de conquistar cada vez mais. E, por incrível que pareça, essas pessoas são as que detêm uma quantidade menor de conhecimento de modo geral. Estas pessoas vêem as outras como iguais, ou até, superiores. Talvez seja por isso que tenham mais paciência com seus semelhantes. O mesmo não ocorre com pessoas mais conhecedoras.
O fato de conhecer cada vez mais parece desencadear, no cérebro de quem está envolvido nessa questão, um processo de sentir-se acima das pessoas que detêm uma porção menor de conhecimento. É perfeitamente possível encontrar pessoas altamente conhecedoras, porém sem paciência ou didática alguma para ensinar partes desse conhecimento a outras pessoas. Parece que quem está ensinando esquece que também já esteve na posição inversa e, por isso, "perde" a paciência com uma possível demora que o outro tem em aprender.
Podemos encontrar inúmeras pessoas na média idade, detentoras de quantidade enormes de conhecimento porém, arrogantes e impacientes de forma constante. Por que isso ocorre? Qual seria o motivo que causa às pessoas mais maduras e mais conhecedoras ter tão pouca compreensão e paciência com seus semelhantes? Um deles pode ser exatamente o do egoísmo de acreditar que chegou-se ao ápice do conhecimento ou do status social ou profissional.
Este fator pode fazer com que a pessoa acredite, sinceramente, que não é necessário ter paciência com pessoas menos conhecedoras, pois elas não teriam direito a esse comportamento. Porém, esse engano, além de remontar às eras antigas preconceituosas da escravatura, torna a pessoa mais injusta e anti-social, afastando os outros de si mesma.
O que podemos fazer, porém, para mudar essa realidade? Um dos itens pontuais que permeiam essa discussão é o nível de educaçao do nosso povo, no sentido mais amplo possível. Uma pessoa bem educada terá, independentemente de sua idade ou conhecimento, mais compreensão e paciência com os demais.
Outro item importante é o sistema de méritos que a sociedade impõe às pessoas. É necessário desmistificar o fator "sucesso" como sendo algo que só alcança quem conseguiu ganhar seu primeiro milhão ou aquela pessoa que tornou-se um alto executivo de uma grande empresa. É preciso clarear a ideia de que pessoas tidas como normais e que conseguem atingir vários objetivos em sua vida, ainda que não sejam tão grandiosos, também é uma pessoa de sucesso. Tal conceito está impregnado na sociedade capitalista e precisa, urgentemente, ser revisto, a despeito do número enorme de pessoas que consideram-se fracassados devido a um padrão equivocado que foi imposto pela sociedade.
As pessoas precisam ser mais normais, no sentido de enxergarem que somos (apenas ou não) seres humanos, ou seja, pessoas que têm objetivos humanos e que consideram tarefas humanas como possíveis a qualquer ser humano que se propuser a desempenhá-las tem total chance de o conseguir. E, consequentemente, por isso, todos precisamos ter a dose correta de paciência com nossos semelhantes. Quem sabe, seremos a próxima pessoa que vai precisar da paciência de algum amigo?
Mais conhecimento, menos paciência? Muitas vezes sim, porém podemos mudar essa realidade. E isso depende de todos nós! Eis o nosso desafio enquanto sociedade humana! Aos adultos, a conscientização! Aos jovens, a missão!
Helvécio M. Braga
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