quarta-feira, 22 de junho de 2011

Meu nome é Labor, meu nome é Belchior.... foi no início do verão

Verão. Dia ensolarado. Dia quente. Horizonte amplo. Montanhas reluzindo o brilho do sol no dia. Tudo parecia normal na rodovia. Nenhum sinal de chuva. Pista livre. Necessidade de chegar em casa. Saudade de casa, da familia. Vontade de visitar os parentes em Minas.
Cansado. Já tinha lutado tanto na vida. Mas não se cansava de lutar ainda mais, mesmo não sendo tão necessário. A necessidade se fazia pelo costume de sempre levantar cedo, mesmo não tendo dormido bem devido às dores frequentes da fibromialgia.
Já havia batalhado para ajeitar as coisas na casinha que lhe trazia tanta alegria, por ser à beira do rio, onde se abrigava dos problemas, das tristezas. Quem sabe esse lugar lhe fazia lembrar dos poucos momentos alegres de folga na infância, onde pescara uns poucos lambaris no córrego das pitas, lá em Brejo Bonito.
Sua infância havia sido quase toda de labuta pesada juntamente com a mãe, Dona Geralda, para ajudá-la a sustentar os irmãos mais novos. Seu pai, Sr. Tião Tó, era muito doente e ele, como filho mais velho, tinha que tomar a frente e agarrar a enxada, a foice, a corda e o banquinho para ir tirar o leite.
A vida lhe foi muito cruel em vários sentidos. Passou dificuldades quase a vida toda. E nunca mediu esforços para romper as barreiras, fossem elas quais fossem. Eu sempre vi meu pai comparado a um trator de esteira, o qual não olha para o tamanho da árvore que tem que derrubar, simplesmente vai em frente e faz o trabalho. Nunca o vi titubear diante das maiores dificuldades que tinha que enfrentar para romper qualquer barreira que fosse pra conquistar o pão de cada dia com o suor vindo lá de dentro do seu coração. Aprendi infinitas lições de sobrevivência, de coragem, de veemência, de determinação, de persistência com essa pessoa incrível que existiu na minha vida, desde que nasci.
Sou sua cria, sou seu rebento, seu primogênito, meu pai. Embora eu não tenha realizado os maiores sonhos que o sr tanto depositou em mim, sempre tentei batalhar na vida com a coragem que herdei da sua pele, da sua voz, do seu olhar. Bem aí, nesse bom lugar que creio esteja, quero que saiba que sempre o amei de uma forma muito intensa.
A cada vez que o sr entrava naquele caminhão e partia para mais uma jornada, meu coração estava conectado ao seu, numa fé irrepreensível de que Deus o estaria guardando em cada quilômetro de cada estrada que percorresse.
Mas, infelizmente, o bom Deus permitiu que o sr. partisse dessa forma tão abrupta, interrompendo uma linha tão certa, tão bem continuada nos últimos tempos, que prefiro ficar na minha ilusão interna de não acreditar que o sr. partiu definitivamente.
São tantas as vezes que ainda chego na sua casa, que agora é de minha mãe e, por um susto, quase pergunto a ela se o sr. ligou pra dizer que dia vai chegar.
Às vezes posso ainda escutar o barulho daquele caminhão aparecendo na esquina, dizendo ao meu coração que o sr. chegou bem de mais uma viagem.
Mas a realidade me diz que preciso enfrentar com hombridade o meu caminho que foi tão bem ensinado pelo sr. Sempre tive o maior respeito por tudo que me ensinastes. Tudo aquilo que ouvi, vi e senti vindos do sr. me fizeram ser a pessoa batalhadora e persistente que sou.
Só posso dizer uma coisa, tal como eu dizia todas as vezes que pegava na sua mão quando partias para mais uma viagem: VAI COM DEUS, PAI!
(Com o coração cheio de saudades imensas de ti, de seu filho querido, Helvécio)

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