quarta-feira, 31 de agosto de 2011

O poder do sistema

   Corporativismo é uma palavra muito utilizada em nossos dias. Ela significa a aglomeração de forças humanas que se tornam uma arma muito poderosa. Provalmente, as primeiras instâncias do corporativismo tinham uma boa intenção. Qual seria, a união de forças de uma minoria inexpressiva a fim de conseguir representação perante o governo ou outras entidades de maior presença.
   Porém, muitas coisas que nascem pequenas tornam-se gigantescas após um período. E foi o que ocorreu com o corporativismo. Na verdade, criaram-se inúmeros corporativismos. Em cada setor da sociedade, as pessoas ou entidades organizaram-se, criando diversos segmentos unidos para lutar em prol de seus direitos. Isso é algo excelente em sua essência, em sua razão de ser.
   O maior problema que podemos notar, porém, é que, a presença de todas essas entidades corporativas no mundo todo cria um sistema de engrenagens muito bem sincronizadas. Esse sistema foi que deu origem à globalização que vemos hoje. Há um emaranhado de conexões, alinhavamento de questões políticas, econômicas, financeiras, sociais e humanas que faz com que qualquer nação dependa das outras e tenha que fornecer subsídios para o mundo todo. Isso significa exatamente uma coisa: nenhum país consegue sobreviver isolado dos demais. E, mais ainda: nós, como cidadãos, não temos como não participar dessa roda de negócios. Ficamos e estamos à mercê desse sistema muito poderoso.
   Podemos trazer isso para uma visão dentro de nosso país. O sistema político é a maior prova desse corporativismo maléfico. Suponhamos que um cidadão de bem consiga se eleger para a câmara dos deputados. Ele tentará propor várias leis e projetos em benefício da população de nosso país. Uma vez eleito, ele faz parte da corporação, que é a Câmara.  Rapidamente ele vai perceber que precisa se adequar ao esquema funcional e à forma de conduzir seus trabalhos dentro daquela casa. Obviamente, nas primeiras tentativas de emplacar suas leis e projetos, ele encontrará enorme resistência. Os projetos que seguem tendo apoio são aqueles que legislam em causa própria. Própria da corporação, ou seja, aqueles que fazem com que o sistema corporativo continue funcionando na mais perfeita sincronia. 
   O poder desse sistema é tão grande, que vemos absurdos acontecerem para manter vivo esse organismo. Caso uma peça esteja destoando da melodia, ela é simplesmente excluída. A peça, nesse caso, é um ou são alguns deputados. E a exclusão pode ser apenas um sufoco aos projetos propostos por ele ou pode até ser a incriminação do mesmo por um grupo ousado de parlamentares. Tudo isso em nome do sistema. Caso essa peça seja insistente e continue tentando enfrentar a questão, ele será, numa oportunidade bem construída, simplesmente cuspido para longe dos principais trabalhos. Note-se que quem está sempre em voga são os mesmos políticos influentes, eloquentes e poderosos, os mesmos grupos.
   O maior problema envolvendo esse assunto não é esse. É que avaliamos os nossos políticos mas esquecemos de nos avaliar. Em escala diminuta, muitas vezes fazemos as mesmas coisas em nossa vida cotidiana. Quando estamos reunidos em um pequeno grupo e excluímos um pedinte que chega para solicitar alguma ajuda, por exemplo, estamos sendo corporativos. Estamos defendendo o direito de gozar da felicidade e euforia que aqueles momentos estão nos proporcionando. Não nos interessa o sofrimento que aquela pessoa está tendo naquele  momento. Agora, devemos nos perguntar: é justo ficarmos dizendo mal daqueles que estão sendo corporativos num ambiente macro, enquanto fazemos o mesmo, ainda que numa escala bem menor? Será que a corrupção não está sendo praticada da mesma forma por nós, só que não noticiada pela imprensa?
   Quando praticamos pequenos atos incorretos e nos acostumamos com eles, estamos agindo de forma semelhante àquela praticada pelos grandes corruptos. O fato é que nosso orgulho nos impele a dizer: - ah, mas eu não ganho rios de dinheiro praticando uma coisinha errada. Mas a questão não é essa. Todas  as coisas grandes que existem são compostas de inúmeras coisinhas pequenas.
   Pensemos nisso. O sistema existente tem um poder enorme. Ele bloqueia a passagem de muitas idéias excelentes. Isso é ruim para nós. Porém, o que devemos nos perguntar é o seguinte: não estamos nós contribuindo, com nossas pequenas atitudes, para que esse sistema se perpetue? Será que não?

Helvécio

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