sábado, 7 de janeiro de 2012

E A CHUVA VEM ME DIZER

   Olho pela janela. Vejo gotas de água caindo. Observo o horizonte. Céu escuro e nublado. Tempo fechado. A melancolia toma meu coração. Sinto vontade de sair ao tempo. Mas a chuva me faz ficar recolhido. Fico pensativo. Os pensamentos distantes tomam minha mente. Penso no futuro. Mas o passado vem tentar invadir minha mente. Penso nos tempos bons de criança, quando eu ficava na janela observando, por horas, a chuva e a enxurrada descendo, com a água toda escura de lama.
   Remeto-me a décadas atrás. O pensamento voa longe. Lembro-me daqueles tempos bons de menino, onde eu tinha tempo para tudo o que quisesse. E as coisas eram todas grandes. O curral da fazenda era enorme. Cada vaca tinha um tamanho imenso. Eu saía a andar nos trilheiros sem fim de um pasto qualquer que eu escolhera naquele dia, logo após a tirada do leite. E, sem hora pra voltar, eu rumava. Seguia meu pensamento, minha vontade. Sem rumo, sem prumo, sem hora de vir embora. Sem ninguém pra me vigiar, nem me podar. Nem dizer pra onde tinha que ir. Eu simplesmente ia. Seguia. Viajava transportado pelos meus próprios pés.
   Ah, que coisa maravilhosa é ser criança e poder olhar o horizonte e tentar alcançá-lo. A gente pensa que é capaz de qualquer coisa. Capaz de chegar em qualquer lugar. Que nada é inatingível. Que tudo fica perto na nossa imaginação. Que nenhum lugar é tão longe assim. Que posso alcançar qualquer coisa que eu quiser, basta avançar sem vacilar nem vontade de recuar. E nunca dá vontade de recuar, muito pelo contrário. A vontade é somente de avançar, rumar, ir, seguir, andar, correr, percorrer, caminhar adiante.
   Quando nos remetemos à nossa infância, viajamos deliciosamente nos pensamentos. Eles invadem nossa mente de uma forma quase tangível. Sentimos que por pouco não tocamos aquele solo antigo onde pisávamos. Quase podemos pegar nos objetos que vêm a nossa mente. Quase podemos ouvir as palavras daqueles dias. Podemos praticamente ouvir o vento sussurrando em nossos ouvidos, dizendo que um novo dia está começando.
   Ó, que coisa tão deslumbrante é relembrar aqueles idos de outrora, que não voltam mais. Mas não tem problema não voltarem na realidade. Eles voltam em nossa mente. Voltam em nossos sonhos. Voltam em nossos filhos, nossos netos. Voltam em uma criança que vemos no parque. Voltam quando ficamos sentados, imaginando aquelas coisas boas que vivemos tão intensamente.
E eu fico aqui, sentado no sofá, escrevendo essas linhas, viajando nesses pensamentos, me remetendo ao passado e ao futuro e pensando: O que a chuva vem me dizer?

Helvécio

2 comentários:

  1. Quando somos pequenos vemos as coisa com a simplicidade de uma criança e quando nos tornamos pessoas grandes já vemos tudo diferente. Enfim ser uma pessoa grande é muito chato na maioria das vezes... Todo ser humano tem momentos trites e felizes de infânica para relembrar, bom seria tivessemos só os momentos felizes...

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  2. É uma realidade que muitos sonhos e devaneios se vão quando nos tornamos adultos. E as coisas que pareciam enormes, já não o são. Mas é a lei...

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