sábado, 27 de outubro de 2012

HOMENS É QUE SOIS, NÃO MÁQUINAS



   O gênio Charles Chaplin, mestre do cinema mudo e da mímica, que ensinava multidões nas telas em preto e branco, com seus jeitos e trejeitos, representando inúmeras verdades através de seus gestos inconfundíveis, deixou um legado imensurável e uma frase indelével: "Não sois máquinas, homens é que sois".
   Muito bem, partindo desta frase importantíssima, podemos colocar em voga uma questão que passa ao largo em muitas mentes todos os dias, nas várias cidades de nosso país e também do mundo. É a questão de praticar algo sem entender o que se está fazendo. Este costume é muito mais comum do que se imagina. O fato de nos acostumarmos a aprender observando nossos pais e as pessoas próximas tem uma vantagem. Aprender vendo o que o outro faz nos remete diretamente à prática, nos levando a reproduzir habilidades, atitudes, e movimentos, geralmente corporais, porém, alguns também envolvendo o raciocínio.
   Conta-se uma história de um maquinista muito experimentado e que estava se aposentando. Como é comum em todas as profissões, quem está deixando um posto precisa treinar aquele que será seu substituto. E, assim, o maquinista experiente foi fazer algumas viagens levando o jovem maquinista consigo, para que o mesmo recebesse as instruções e fosse aprendendo o ofício observando a prática de seu instrutor. Com o passar do tempo, durante a viagem, o maquinista jovem observou, por várias vezes, que, ao descer em uma estação, o maquinista experiente descia com um martelo na mão e batia levemente em todas as rodas da locomotiva. Essa atitude se repetiu por várias vezes, sem que o jovem se manifestasse. Porém, não vendo nenhuma explicação para tal atitude, o jovem não resistiu e perguntou ao seu instrutor: senhor, eu vejo que, a cada vez que paramos, você pega o martelo e bate nas rodas do trem. Isso está me intrigando e quero saber o motivo para essa atitude. - Por que você está me perguntando isso, retrucou o maquinista experiente? Eu já estou nesta profissão há cinquenta anos e não sei o motivo, apenas faço isso e pronto! A primeira vez que ouvi esta história pensei que tratava-se de uma lenda porém, ao longo do tempo, vi que ela é baseada em fatos reais, onde existem vários profissionais que aposentam-se sem saber o porquê de executar algumas atividades, mesmo após décadas de prática.
   A propósito, o motivo das batidas do martelo nas rodas do trem é para saber se alguma roda está trincada. Caso esteja, o barulho será diferente e será necessário verificar e, talvez, fazer alguma manutenção. Porém, com o treinamento que o maquinista antigo possuía, ele não saberia o que fazer, pois era, literalmente, um ignorante no que diz respeito à situação de integridade das rodas.
   Em várias profissões, podemos ver pessoas executando tarefas de forma repetitiva, sem parar, todos os dias, semana após semana e ano após ano. E, muitas delas, ao serem questionadas, não saberão explicar o motivo daquelas tarefas, simplesmente dirão: - eu faço porque tem que ser feito; ou - eu faço porque meu chefe mandou; ou - eu faço porque é norma da empresa.
   Meus caros e minhas caras, tudo ou quase tudo tem, no mínimo, uma explicação. As coisas não existem por acaso. Toda e qualquer atividade humana teve um início, em geral, planejado e depois foi sendo aperfeiçoada. Portanto, as tarefas que são executadas numa empresa ou em uma instituição qualquer, seja ela de que natureza for, são explicáveis e precisam ser compreendidas por quem as executa. Caso contrário, esta pessoa estará bem próxima a tornar-se semelhante a um repetidor de tarefas. E uma pessoa que age assim tende a ser substituída por qualquer outra que saiba fazer o mesmo serviço, porém em menos tempo ou que custe mais barato para a empresa.
   É comum vermos frases que afirmam que precisamos nos aperfeiçoar, reciclar nosso conhecimento e aprendermos a ser proativos em nossa profissão. E isso é uma realidade, pois o conhecimento se renova, as práticas se desenvolvem, melhoram, pois o ser humano é dinâmico e está sempre criando e desenvolvendo novos conteúdos e buscando otimizar as suas atividades. Ou seja, todos nós precisamos atentar para essas questões de não nos acomodarmos, correndo o risco de sermos meros repetidores de tarefas. Vamos buscar o significado, tanto das tarefas que fazemos, quanto de nossa profissão. Pois, como dizia Charles Chaplin: "Não sois máquinas, homens é que sois!"

Helvécio

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