Sempre que caminho pela rua gosto de observar todos os ângulos à minha volta. Olho para cima e vejo o céu, às vezes azul infinito, às vezes cinza-nublado, às vezes muito escuro, às vezes carregado de nuvens. Olho para o chão e vejo as calçadas, a terra, a grama, o asfalto, as pegadas das pessoas, as marcas de pneus de carro, o chão seco, o chão molhado, o chão que foi limpo, o chão sujo.
Olho para os objetos. Vejo carros, caminhões, camionetes, motocicletas, bicicletas. Vejo postes de energia elétrica, vejo fios de alta-tensão. Vejo casas, prédios, lotes baldios. Vejo ruas, avenidas, cruzamentos de ruas. Vejo semáforos, faixas de pedestres. Vejo muros.
Olho para as pessoas. Vejo rostos, rostos e mais rostos. Vejo expressões de tristeza, de espanto, de alegria, de surpresa. Vejo sorrisos largos de jovens. Vejo rugas nos rostos de pessoas idosas. Vejo carrancas de pessoas que enfrentam problemas. Vejo expressões as mais diversas possíveis.
Posso ver infinitos rostos e inúmeras pessoas. Posso tentar imaginar o que se passa na mente de cada uma delas, mas não sou capaz de fazê-lo. Apenas lembrar o que existe dentro de minha pequena mente já é uma tarefa muito árdua para mim. Quanto mais querer sequer imaginar o que pode se passar na mente e no pensamento das pessoas!
Por que esse texto tem o título de filtros? Sim, posso explicar de forma bem clara. O que foi descrito acima mostra tarefas que fazemos todos os dias, corriqueiramente. Sim, e o que isso tem a ver com os tais filtros? É simples. O que mais fazemos enquanto vivemos é aplicar filtros.
Aplicamos filtros quando conversamos com uma pessoa e de antemão a encaramos com preconceito. Se a expressão facial dela me diz que ela não tem tantos conhecimentos quanto eu, já me julgo superior a ela. Isso é um filtro. Quando olho para uma cidade que não conheço e pelo aspecto imagino como deve ser o perfil do administrador da mesma, estou aplicando um filtro, mesmo antes de saber a realidade daquele lugar. Quando leio uma matéria em um jornal que é contrária ao meu partido político de preferência, já imagino que aquilo é uma mentira. Isto é outro filtro.
Os filtros nos são enxertados assim que nascemos. O ambiente familiar em que nos desenvolvemos possui inúmeros filtros. Grande parte deles necessária para que uma família se proteja, porém, outros, nem tanto.
A forma como vemos o mundo só pode ser vista na sua totalidade se tentarmos retirar praticamente todos os filtros ao fazermos isso. Em fotografia, um filtro preto e branco aplicado permite que se fotografe uma paisagem e ela seja registrada em apenas duas cores. Isso é um exemplo muito claro do que é um filtro. Um aluno, na sala de aula, vendo e ouvindo o professor explicar uma matéria, vai aplicar, necessariamente todos os filtros que possui relacionados ao aprendizado. Se ele tem poucos conhecimentos da língua portuguesa e o professor pronunciar algumas palavras complexas, seus filtros o impedirão de compreender tal matéria. Isso é um filtro extremamente prejudicial.
As maiores dificuldades de relacionamento estão na divergência dos filtros pessoais. Caso duas pessoas possuam os mesmos filtros em relação às mesmas questões, provavelmente elas terão muitos assuntos em comum e suas opiniões tenderão a convergir, isto é, elas terão facilidade de entrar em acordo. Porém, caso os filtros sejam muito diferentes, a discórdia irá ter uma certa frequência e não será possível ter um bom relacionamento.
O que dizer além disso sobre os filtros? Bem, todos filtramos as coisas, as pessoas, as circunstâncias. Uma determinada pessoa que tenha um filtro positivo poderá, caso enfrente uma situação complicada, "congelar" aquela situação, não permitindo que as emoções e medos interfiram em suas atitudes. Isto seria a aplicação de um "filtro emocional", ou seja, é um tipo de controle das emoções que faz com que as atitudes racionais continuem sendo praticadas. Desta forma, o sofrimento será menor e a prática de vida é mais coerente.
Podemos e devemos filtrar muitas coisas? Sim, com certeza. Porém, devemos analisar os diversos filtros que estamos aplicando na vida como um todo e, após fazer isso, refletir sobre os mesmos da seguinte forma: primeiro, qual foi a origem daquele filtro? Depois, verificar se o uso desse filtro é positivo. Caso não seja, devemos ver a melhor forma de modificá-lo ou eliminá-lo de nossa prática. Isto é, devemos fazer isso se queremos melhorar nossos relacionamentos, tanto com os outros quanto conosco mesmos. Mas isso eu acho que é ponto pacífico, não é? É isso!
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